Ninguém se preocupa em ter uma vida virtuosa, mas apenas com quanto tempo poderá viver. Todos podem viver bem, ninguém tem o poder de viver muito.

Sêneca

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ratinho e seu palanque presidencial

Lauro Jardim, colunista da revista Veja, destacou na semana passada o espaço que Ratinho (SBT) tem dado aos possíveis candidatos à presidência do Brasil em 2014. Chamou a atenção que o espaço dado no programa do apresentador para entrevistas, quadro chamado “Dois Dedos de Prosa”, é uma ferramenta importante par falar com o público mais popular. Além disso, o telespectador tem a oportunidade de conhecer os políticos de uma maneira original. E a faixa noturna ocupada é a mais nobre da TV, segundo lugar no horário em números apresentados pelo Ibope (julho/2013).

Na terça-feira (27/8), o presidenciável Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, será o entrevistado. A presidente Dilma Rousseff (PT), que tende a concorrer pela reeleição, está com uma data agendada. O senador Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (sem partido) conversaram com Ratinho e pelo bate-papo que ambos tiveram dá para ter um parâmetro da importância que essa nova plataforma oferece.


Aécio Neves esteve com o Ratinho no dia 24 de maio deste ano. Eles têm uma relação que foi estreitada quando o apresentador foi deputado federal (PRN). Seu gabinete era vizinho ao de Aécio, convivendo juntos entre 1991 e 1995. Essa aproximação, que se manteve depois da saída de Ratinho da Câmara, ajudou para que o senador estivesse à vontade na entrevista e pudesse responder as perguntas de maneira mais natural.

Passo firme
Perguntado sobre sua candidatura, Aécio se esquiva. Como presidente do partido, discursa dentro do protocolo. Ele reforça a unidade dos tucanos – cutucando de leve José Serra, que deve concorrer nas prévias pela vaga de candidato do PSDB – e reforça uma ideia de projeto do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de endurecer as penas criminais para menores de idade. Aécio anuncia em primeira mão um projeto de sua autoria que visa triplicar a punição aos maiores de idade que comprovadamente usam menores para aproveitar as brechas do sistema judiciário. Ratinho prontamente diz que vai apoiar esse projeto.

O apresentador mantém o clima leve da entrevista ao perguntar a Aécio sobre seus gostos pessoais (melhor refeição, cantor preferido, o que lhe tira a paciência...). Isso deixa o entrevistado mais solto, para logo em seguida o senador bater na tecla de que os programas assistencialistas que são creditados ao governo de Lula (PT), na verdade tiveram início com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A questão mais delicada que Ratinho propôs foi por que o PSDB, nos oito anos de gestão FHC, não pôs em prática uma reforma tributária eficiente. Aécio dá uma resposta ideal, pois ressaltou que o objetivo do mandato tucano no governo federal era estabilizar a economia do país. Aécio saiu bem na entrevista. Teve a seu favor a desenvoltura natural que floresceu na conversa com Ratinho. O “candidato” mostrou qual será sua linha em 2014: mostrar um plano diferente para o Brasil do que foi visto nos últimos anos. Inclusive, Aécio criticou o PT ao afirmar que a sigla esquerdista está mais interessada em se perpetuar no poder – e se contenta com isso –, perdendo a vontade de transformar. O tucano conseguiu aproveitar ao máximo o espaço que teve, dando um passo firme na corrida presidencial.

Habilidades comunicativas
Marina Silva, que está sem partido e busca fundar um para concorrer no ano que vem, foi entrevistada no dia 4 de julho. Ela aproveitou a onda das manifestações que se alastraram por todo o país para reforçar que é a tal “terceira via”: nem à direita (PSDB), nem à esquerda (PT). Porém repetiu um discurso que Aécio também proferiu, elogiando pontos fundamentais de sucesso político de governos anteriores: estabilidade econômica de FHC e expansão dos direitos sociais de Lula. A reforma política esteve fortemente presente na entrevista, assunto mais quente do momento. Contudo, Ratinho voltou a tocar na questão da reforma tributária, já que acredita ser um tema primordial para que a qualidade de vida do brasileiro tenha um ganho substancial.

A “candidata” perdeu a oportunidade de se apresentar realmente ao grande público. Seu nome é atrelado a um misticismo, como se fosse a opção legítima de mudança na política brasileira, tendo como base os desiludidos. O problema é que Marina não tem conteúdo para ser uma “terceira via” no mínimo forte. Não conseguiu se diferenciar, seguindo com fidelidade a dialética da política tradicional. Não bastasse, Ratinho acentuou que o nome do partido que Marina quer fundar, Rede Sustentabilidade, é difícil de pronunciar. Fora que ele a questionou sobre seus posicionamentos radicais em defesa do meio ambiente.

Marina não teve um resultado positivo porque não soube utilizar qualitativamente um espaço raro na TV brasileira em poder falar francamente acerca de qualquer assunto político. Ratinho conduziu bem as duas entrevistas e ficou a cargo dos entrevistados em aplicar suas habilidades comunicativas. Ponto negativo para Marina; ponto positivo para Aécio.

Eleição de 2014 começou
Eduardo Campos será uma peça interessante na campanha de 2014, mas não deve brigar para vencer – seu foco está em 2018. Contudo ele tem de se apresentar como “candidato” desde já e sua ida ao Programa do Ratinho é fundamental para tanto. Momento para que o governador se posicione sobre questões nacionais e se torne conhecido de uma grande faixa do eleitorado. Campos, ótimo orador e bem articulado, tem tudo para ter um resultado parecido ao de Aécio.

Com Dilma é um pouco diferente. A seu favor contará que quando for entrevistada sua aprovação nas pesquisas será maior que os atuais 38% (ótimo/bom). Cabe a ela sair bem e transmitir uma imagem segura. Ratinho deve ser mais agressivo nas perguntas, visto que se posicionou contra o governo Dilma por diversas vezes no seu programa, com comentários bem ásperos.

Ratinho criou, com o quadro “Dois Dedos de Prosa”, uma vitrine valiosa para que políticos deixem para trás às máscaras das propagandas maquiadas por marqueteiros e se apresentem de cara limpa ao eleitor. Para alguns é um risco, afinal se descuidarem derrubam o prestígio. Para outros é objeto imprescindível de ascensão, de retomada da confiança.
O comitê rational atua intensamente em 2013, afinal a eleição presidencial de 2014 começou.

João da Paz é jornalista, São Paulo, SP

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