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Sêneca

domingo, 12 de junho de 2011

Passeata dos bombeiros arrasta 27 mil pela orla de Copacabana



Cerca de 27 mil pessoas, segundo cálculos da Polícia Militar, participaram do protesto organizado na orla de Copacabana neste domingo (12) por bombeiros do Rio de Janeiro. A categoria reinvindica reajuste salarial e pede a anistia administrativa e criminal aos 439 militares presos no último dia 4, após invadirem o Quartel Central da corporação. Eles foram denunciados pelo Ministério Público do Rio na sexta-feira, (10) mesmo dia em que a Justiça concedeu habeas corpus para o grupo.

A área marcada como ponto de encontro, em frente ao hotel Copacabana Palace, ficou repleta de pessoas vestindo blusas vermelhas (cor do uniforme dos militares), que empunhavam cartazes com frases de apoio.

Embora concentrados desde às 9h, os manifestantes deram início à passeata por volta das 12h. Duas pistas da Avenida Atlântica precisaram ser fechadas para que os carros dessem lugar aos manifestantes. Veículos de moradores só conseguiam passagem pela pista em frente aos prédios.

O protesto acabou por volta das 14h40h e foi realizado um dia depois da libertação dos 439 bombeiros. Ao término da passeata, os manifestantes se reúniram próximo ao Forte Militar de Copacabana e, em posição de sentido, cantaram o Hino Nacional
Mulheres, filhos e parentes dos bombeiros se juntaram ao ato. Muitos animais, como cachorros, foram levados à praia adornados de fitas vermelhas, em sinal de solidariedade.

Moradores de Copacabana também se solidarizaram à causa. Da janela de seus apartamentos eles colocavam canos e pedaços de panos vermelhos, para mostrar apoio. A cantora Alcione e a atriz Neuza Borges acompanharam o protesto.

Um dos líderes do movimento, o bombeiro Robson Correia Neto, do Grupamento Marítimo, afirmou que neste momento conseguir a anistia para os 439 bombeiros presos é mais importante do que retomar as conversas sobre reajuste salarial. “O foco no momento não é mais o salário, é a anistia dos colegas. Claro que também queremos reajuste, mas até agora, nada”, falou.

O movimento Rio de Paz instalou 439 balões vermelhos nas areias da praia de Copacabana, para simbolizar os bombeiros presos. Após o toque de uma corneta, familiares dos militares soltaram os balões.

A manifestação recebeu apoio de bombeiros de outros estados e até da vizinha Argentina. O bombeiro Américo Montecchia, de 26 anos, deixou Buenos Aires para apoiar o grupo. Com o contracheque na mão, ele disse que os bombeiros argentinos recebem salário melhorque os brasileiros (7.147,12 pesos ou R$ 2.731) e defende que os colegas de farda no Brasil se fortaleçam em sindicatos para negociarem reajustes.

Do Espírito Santo, 30 bombeiros vieram para o Rio de Janeiro apoiar a manifestação. "O que os bombeiros do Rio vivem reflete a realidade nacional", afirmou o presidente da Associação de Bombeiros Militares do Espírito Santo, o capitão da reserva Walter Victorino. "Queremos um piso nacional", reivindicou.

Bombeiro preso diz que "sofreu muito"

Preso até a tarde deste sábado (11), o subtenente Renaldo disse que "sofreu muito" ao longo da semana que passou. "Lógico que, dentro do possível, nós não fomos maltratados. Mas é uma injustiça o que fizeram com a gente. Só queremos melhores condições de trabalho. Foi difícil ficar longe da minha família, sofri muito", disse o militar
Pai de três filhos, sendo o menor deles um bebê de um ano, o bombeiros falou que embora tenha ficado uma semana fora de casa, e de seu bebê estar doente, ele não poderia deixar de participar da manifestação.

PMs e professores apoiram os manifestantes

Policiais militares se juntaram ao grupo com cartazes que ostentavam frases de apoio ao protesto. Embora não estejam usando farda, os PMs vestiam uma blusa azul, cor do uniforme da corporação.

Professores da rede estadual de ensino também reforçaram o coro dos manifestantes, em busca de melhores salários.

Priscila Bessa, iG Rio de Janeiro

Governador do Rio perde apoio com crise dos bombeiros


Acostumado a capitalizar crises e a transformá-las em notícias positivas para o governo --como no caso dos ataques a ônibus em novembro do ano passado que desencadearam a ocupação do Complexo do Alemão--, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), vai perdendo a batalha da opinião pública para o Corpo de Bombeiros.
Embora ainda faltem pesquisas para apontar o nível de corrosão da popularidade do político, os sinais de apoio aos bombeiros e de reprovação a Cabral se espalham das ruas às redes sociais.

Na internet, ele chegou a ser chamado de Sérgio Gaddafi, em referência ao ditador líbio. Também foi comparado o salário dos bombeiros para "salvar vidas" ao dado ao governador para "ferrar com nossa vida".

Nas ruas, os bombeiros fizeram das fitas vermelhas símbolo de apoio em antenas e retrovisores de carros.

Talvez mais do que a prisão dos bombeiros, pesaram contra Cabral as duras palavras usadas por ele após a invasão do quartel central da corporação, quando qualificou de "vândalos" e "irresponsáveis" os detidos.

"Os bombeiros são uma das poucas instituições que têm o apreço da população. Transformá-los em bandidos por um erro episódico não se justifica. Nessa queda de braço, claramente a população ficou a favor dos bombeiros", diz o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ.
Cabral parece ter subestimado esse apreço. Em vídeo na internet gravado por atores da Globo, Elizabeth Savalla resume o sentimento: "Eu nunca ouvi em toda a minha vida ninguém falar nada [de mal] de um bombeiro".

O argumento é semelhante ao usado pelo deputado paulista Protógenes Queiroz (PC do B), que se aliou a dois colegas do Rio no pedido de habeas corpus que acabou sendo concedido pela Justiça na madrugada de sexta.

"Os bombeiros são a instituição mais querida do povo brasileiro. Se fosse outra, não teria havido essa mobilização. Cadeia é para bandidos, e não para bombeiros", diz.

Para o professor Ismael, as concessões feitas pelo governo ao longo da semana --a antecipação de um aumento de 5,58% que estava previsto para ocorrer de forma escalonada até o fim do ano e a recriação da Secretaria de Defesa Civil-- são demonstrações de que Cabral tinha margem de atuação e poderia ter agido antes.

Hoje, está prevista uma passeata em Copacabana que pode ajudar a dimensionar mais o estrago causado à popularidade do político.

Para Ismael, é cedo para saber o impacto eleitoral, mas uma coisa é certa: "Isso faz com que a sociedade repense a administração Cabral, que até aqui vivia uma lua de mel".



RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO