Acostumado a capitalizar crises e a transformá-las em notícias positivas para o governo --como no caso dos ataques a ônibus em novembro do ano passado que desencadearam a ocupação do Complexo do Alemão--, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), vai perdendo a batalha da opinião pública para o Corpo de Bombeiros.
Embora ainda faltem pesquisas para apontar o nível de corrosão da popularidade do político, os sinais de apoio aos bombeiros e de reprovação a Cabral se espalham das ruas às redes sociais.
Na internet, ele chegou a ser chamado de Sérgio Gaddafi, em referência ao ditador líbio. Também foi comparado o salário dos bombeiros para "salvar vidas" ao dado ao governador para "ferrar com nossa vida".
Nas ruas, os bombeiros fizeram das fitas vermelhas símbolo de apoio em antenas e retrovisores de carros.
Talvez mais do que a prisão dos bombeiros, pesaram contra Cabral as duras palavras usadas por ele após a invasão do quartel central da corporação, quando qualificou de "vândalos" e "irresponsáveis" os detidos.
"Os bombeiros são uma das poucas instituições que têm o apreço da população. Transformá-los em bandidos por um erro episódico não se justifica. Nessa queda de braço, claramente a população ficou a favor dos bombeiros", diz o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ.
Cabral parece ter subestimado esse apreço. Em vídeo na internet gravado por atores da Globo, Elizabeth Savalla resume o sentimento: "Eu nunca ouvi em toda a minha vida ninguém falar nada [de mal] de um bombeiro".
O argumento é semelhante ao usado pelo deputado paulista Protógenes Queiroz (PC do B), que se aliou a dois colegas do Rio no pedido de habeas corpus que acabou sendo concedido pela Justiça na madrugada de sexta.
"Os bombeiros são a instituição mais querida do povo brasileiro. Se fosse outra, não teria havido essa mobilização. Cadeia é para bandidos, e não para bombeiros", diz.
Para o professor Ismael, as concessões feitas pelo governo ao longo da semana --a antecipação de um aumento de 5,58% que estava previsto para ocorrer de forma escalonada até o fim do ano e a recriação da Secretaria de Defesa Civil-- são demonstrações de que Cabral tinha margem de atuação e poderia ter agido antes.
Hoje, está prevista uma passeata em Copacabana que pode ajudar a dimensionar mais o estrago causado à popularidade do político.
Para Ismael, é cedo para saber o impacto eleitoral, mas uma coisa é certa: "Isso faz com que a sociedade repense a administração Cabral, que até aqui vivia uma lua de mel".
RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO
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