As estradas que integram Minas Gerais ao restante do Brasil não
suportaram a prova das chuvas do fim de 2011 e início deste ano.
Desmoronamentos de barreiras, erosões no asfalto e rios que inundaram o
pavimento praticamente isolaram o estado por via terrestre, num estrago
tamanho que já engloba 30 dos 42 pontos de restrições totais ou parciais
de tráfego no Brasil. “Minas é o estado mais afetado. Mais de 70%
(71,4%) das estradas danificadas são mineiras”, disse o ministro dos
Transportes, Paulo Sérgio Passos. E a precariedade não se restringe às
situações mais graves.
Em levantamento feito pelo Estado de Minas sobre as condições das
estradas sob jurisdição do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (Dnit), 61,5% da extensão das 30 vias monitoradas eram
merecedoras de cautela dos motoristas. O índice de vias precárias, onde a
recomendação de segurança do Dnit é para circular com cuidado ou
atenção, se refere a 4.721,7 quilômetros com excesso de buracos,
sinalização ruim, erosões e barreiras que despencaram, dos 7.677,7
quilômetros classificados pelo departamento. As piores são as BRs 116,
251, 262, 265, 367, 365, 364, 356 e 459. Apenas 2.956 quilômetros
(38,5%) estão em bom estado.
“O problema nacional de política de conservação se reflete com mais
gravidade aqui (em Minas Gerais) por termos a maior malha viária do
país. À exceção das rodovias com pedágio, as demais recebem apenas
reparos superficiais, que não suportam chuvas e ainda têm a topografia
acidentada, o que piora a situação”, avalia o engenheiro, consultor de
infraestrutura viária e especialista em transporte e trânsito Everaldo
Cabral. “O índice é grave e mostra que é preciso uma política mais
séria. Mais investimentos em projetos aprofundados e eficientes”,
afirma.
Os dados não refletem toda a realidade das rodovias federais
mineiras, uma vez que dos 10.666 quilômetros monitorados pelo Dnit em 30
estradas, 3.028 quilômetros (28,39%) aparecem sem qualquer informação
aos condutores que precisam passar por lá, como nas extensões completas
das BRs 120, 122, 342, 352 e 479. “A coisa só não virou calamidade
porque a chuva começou em 20 de dezembro. Nesses últimos 15 dias, o
volume de caminhões de carga nas estradas é 50% menor. As empresas estão
fechando balanços. Se tivéssemos um tráfego normal, a coisa estava mais
séria”, pondera o presidente do Sindicato da União Brasileira dos
Caminhoneiros, José Natan Emídio Neto.
Sorte e reza Acostumado a rodar pelas estradas
mineiras, principalmente na Zona da Mata, o caminhoneiro Ademir Edson da
Silva, de 49 anos, conta com a sorte e a reza para passar ileso pelas
armadilhas que as chuvas provocam. “A gente, que trabalha na rodovia,
fica mais exposto. Quantos barrancos vejo caindo, rolando pedras que
podem matar um? Se não estamos parados esperando as máquinas liberarem a
pista, estamos passando na beira dessas barreiras”, reclama o
caminhoneiro, que já roda a 27 anos transportando até 24 toneladas de
alimentos na sua carreta. “Não tem lugar que está prestando. A chegada
de Timóteo tem muita panela e buracos feitos perto da Ponte Sá Carvalho.
Muitas barreiras caindo. Ontem (anteontem) esperei 45 minutos para os
tratores liberarem a pista”.
A rodovia mineira mais crítica na avaliação da Polícia Rodoviária
Federal (PRF) é a BR-116. As 16 horas de chuvas ininterruptas em Além
Paraíba, no Sul de Minas, provocaram muitas quedas de barreiras na
estrada. “Estamos monitorando tudo, mas dando prioridade à desobstrução
dos acessos. Já estamos dando início à reconstrução de pontes nas
comunidades rurais”, disse o secretário de Obras da cidade. Na manhã de
ontem, o DNIT começou a reparar a BR-116, principalmente entre
Leopoldina e Além Paraíba. A estrada estava interditada em vários pontos
devido a barreiras.
No km 800, no distrito de Marinópolis, em Além Paraíba, a rede
pluvial não suportou a força da água de um córrego e arrancou a pista.
Carros e motos faziam o desvio por dentro do lugarejo. Filas de
caminhões aguardavam a liberação da estrada. Um levantamento da
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) concluiu que, até a noite
de segunda-feira, as chuvas haviam ultrapassado mais de 70% do total
esperado para todo o mês na Zona da Mata. “Somente na região são 40
municípios em situação de emergência”, afirmou o coordenador estadual de
Defesa Civil, coronel Luís Carlos Dias Martins.
Palavra de especialista
Nilson Tadeu Nunes
Escola de Engenharia da UFMG
Escola de Engenharia da UFMG
Falta planejamento e tecnologia
Vejo várias causas para as estradas mineiras estarem tão ruins. Uma delas é a ação das ocupações irregulares de áreas montanhosas. Para começar, esses locais onde normalmente ocorrem deslizamentos não têm contenções de engenharia. Contenções custam muito caro. Em vez disso, o que é feito nas nossas estradas são apenas cortes no terreno. Com o tempo, a água da chuva se acumula na terra e ela cede. Muitos dos locais onde tinha vegetação nativa viraram pastagem. Juntando tudo isso, temos uma bomba pronta para explodir. Em alguns casos, o problema é a deficiência de projeto, reparos superficiais em estradas antigas que não foram bem mantidas ou são obras de tecnologia ultrapassada. Esses índices demonstram que a manutenção não está correta. Só é feita a parte corretiva, que são os tapa-buraco e a manutenção de rede de drenagem. Na Europa, quando está perto de vencer a vida útil do pavimento, eles arrancam tudo e fazem um novo. Aqui, quase sempre a coisa é corretiva e estraga com a chuva. Temos problemas sérios com excesso de cargas entre eixos, a própria condição das estradas é calculada para uma situação, mas a operação que enfrenta é mais pesada.
61,5% das extensões das estradas são precárias.
48,36% estão críticas.
Fonte: Mateus Parreiras e Pedro Ferreira – Estado de Minas
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