A
temperatura do planeta subirá quase 5 graus Celsius (ºC) até 2100,
afirma a previsão mais pessimista do novo relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês),
divulgado nesta sexta-feira (27).
O painel reunido em Estocolmo,
na Suécia, analisou quatro cenários possíveis sobre as mudanças
climáticas até 2100. No caso mais otimista, a elevação da temperatura
varia entre 0,3°C e 1,7ºC no período 2081-2100 frente à média observada
entre 1986 e 2005.
Já na hipótese mais pessimista, o planeta
ficará entre 2,6ºC e 4,8°C mais quente na mesma comparação. Os
especialistas apresentaram essa variação baseada em quanto o planeta
pode emitir, nas próximas décadas, de gases que provocam o efeito estufa
na atmosfera.
É que o IPCC considera agora "extremamente
provável" que a influência da atividade humana seja a principal causa do
aquecimento global observado desde meados do século 20. Os
especialistas calculam esta certeza em 95% contra os 90% do relatório
anterior, divulgado em 2007, que considerava "muito provável" a
responsabilidade do homem.
"Para limitar a mudança climática é
necessário reduzir substancialmente e de forma duradoura a emissão de
gases do efeito estufa", afirma Thomas Stocker, vice-presidente do
painel.
Aumento do nível do mar
O
órgão também revisou para cima as previsões sobre o aumento do nível do
mar, uma das principais consequências do aquecimento global.
Os
259 especialistas de 39 países diferentes disseram ter aperfeiçoado a
medição do fenômeno do degelo das geleiras da costa da Groenlândia e do
Antártico, que eleva o nível do mar. Agora, o grupo do IPCC informa que a
elevação das águas pode ficar entre 26 cm, no melhor cenário, e 82 cm,
na pior estimativa, durante o século 21, contra a projeção de 2007,
muito criticada por anunciar elevação entre 18 cm e 59 cm.
"Nosso
trabalho é apresentar conclusões científicas. No relatório reafirmamos a
urgência de reduzir as emissões. Espero que esta seja a mensagem que o
mundo aprenda", afirmou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.
O
Painel afirma que a mudança climática afetará os processos do ciclo do
carbono, impulsionando o aumento de CO2 na atmosfera e, por sua vez, a
acidificação dos oceanos - que já absorveu 30% das emissões geradas por
atividade humana.
A concentração de gases cresceu a níveis "sem
precedentes", especialmente a de CO2, que é 40% maior agora do que na
era pré-industrial devido às emissões de combustíveis fósseis. Além
disso, esse provável aumento de temperatura também vai provocar
fenômenos extremos com mais frequência.
"As ondas de calor
acontecerão com mais frequência e durarão mais tempo. Com o aquecimento
da Terra, acreditamos que acontecerão mais chuvas nas regiões úmidas e
menos nas regiões secas, mas teremos exceções", disse Stocker.
Novo acordo climático
Criado
há 25 anos pela ONU (Organização das Nações Unidas) , o IPCC tem por
objetivo estabelecer um diagnóstico para orientar as decisões das
autoridades políticas e econômicas, mas não propõe medidas de ação
concretas. O relatório divulgado hoje é o primeiro de uma série informes
que serão publicados até 2014. Os dois próximos volumes discutirão os
possíveis impactos divididos por região do planeta e o último, que sairá
até o mês de outubro do ano que vem, vai apresentar a síntese do
estudo.
Quando estiver completo, o relatório servirá de base para
as negociações internacionais sobre o clima que pretendem alcançar um
acordo em 2015. Os 195 países participantes querem limitar a 2°C o
aumento da temperatura na comparação com a era pré-industrial. Este
ambicioso objetivo, porém, só será alcançado se for confirmado um
aumento de 0,3°C durante o século 21, cenário em que há um drástico
corte de emissões e novas políticas climáticas, ressalta o documento.
Mas
é fato que o Painel do Clima da ONU destacou hoje que a temperatura da
superfície terrestre deverá ultrapassar o aumento médio de 1,5°C até
2100, em relação à média de 1850 a 1900. A temperatura terrestre já
aumentou quase 0,8°C desde a época pré-industrial, lembram os
cientistas.
"Sabemos que os esforços para limitar a mudança
climática não são suficientes para inverter a tendência do aumento das
emissões de gases do efeito estufa", disse Christiana Figueres,
secretária-executiva da ONU sobre o clima. "Para tirar a humanidade da
zona de perigo, os governos têm que adotar medidas imediatas e chegar a
um acordo em 2015, na grande conferência da ONU prevista para Paris",
completou.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, agradeceu ao IPCC por sua "avaliação regular e imparcial" da mudança climática.
"Este
novo relatório será essencial para os governos que trabalham para
alcançar acordos ambiciosos e legalmente vinculantes sobre a mudança
climática em 2015", completou Ban, em um discurso exibido durante a
apresentação do texto.
UOL
(Com agências internacionais)
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