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Dezessete anos após uma perícia não apontar elementos que indiquem que a
morte do então ex-presidente Juscelino Kubitschek, em acidente de carro
em 1976, foi um atentado, o governo de Minas Gerais concordou em
realizar novos exames sobre o caso.
O ex-presidente e seu motorista, Geraldo Ribeiro, morreram em viagem de
São Paulo ao Rio, na rodovia Presidente Dutra, após o carro em que
estavam se chocar com um caminhão. Desde então, passou-se a especular
sobre um possível atentado contra JK, que fora perseguido pela ditadura
militar (1964-1985).
A disposição do governo mineiro em retomar o caso foi divulgada nesta
segunda-feira (23), após reunião entre o presidente da Comissão da
Verdade Municipal de São Paulo, vereador Gilberto Natalini (PV), e o
secretário de Defesa Social de Minas Gerais, Rômulo Ferraz.
Natalini solicitou nova perícia em um fragmento metálico cilíndrico que
foi encontrado junto ao restos mortais do motorista do ex-presidente em
1996, quando o corpo foi exumado a pedido do amigo e ex-secretário de
JK, Serafim Jardim.
Ao informar o resultado da reunião, o governo mineiro disse ter ficado
"acordado que o Estado de Minas Gerais irá localizar em seus arquivos a
perícia realizada em 1996 e que apontou que um fragmento metálico
encontrado no crânio do motorista era um prego do caixão e não uma
bala".
A Folha questionou o governo se haverá dificuldade em localizar o
fragmento extraído do crânio na exumação de 1996. Em resposta, foi dito
que o perito "esclareceu que todos os laudos são mantidos em arquivos
do IML".
Segundo Natalini, o novo exame deverá ser acompanhado por técnicos indicados pela Comissão da Verdade paulistana.
"Se aquele fragmento de metal que estava na cabeça do motorista for de
projétil de arma de fogo, acabou o problema, porque esta é a suspeita:
que o motorista recebeu um tiro na cabeça e perdeu o controle do carro,
provocando o acidente", afirma o vereador paulista.
REUNIÃO
Também estavam na reunião Serafim Jardim, que em 1996 pediu a a exumação
dos restos mortais de Geraldo Ribeiro, e Márcio Alberto Cardoso,
coordenador do setor de antropologia do IML (Instituto Médico Legal) de
Minas Gerais e então chefe da seção de perícias do IML em 1996.
Segundo Jardim, Cardoso disse na reunião que o material metálico pode
ter sofrido deterioração por ter sido submetido a produtos químicos há
17 anos.
Filha adotiva de JK, a arquiteta Maria Estela Kubitschek afirma não
acreditar que a morte tenha sido provocada. "Não acredito que papai
tenha sido assassinado ou que tenham provocado o acidente que acabou na
morte dele", disse à Folha. "Foi o destino. Eu acredito no destino."
A arquiteta diz ainda acreditar nas perícias que já foram feitas sobre o caso.
Em 2001, uma comissão criada na Câmara dos Deputados para investigar as
causas da morte de JK também concluiu que o acidente foi uma fatalidade.
A comissão foi presidida pelo então deputado Paulo Octávio (ex-PFL-DF),
casado com a neta do ex-presidente, e ouviu mais de 30 pessoas durante
dez meses de investigações.
A retomada do caso JK também foi solicitada pela seção mineira da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil). Em setembro do ano passado, o órgão
pediu à Comissão Nacional da Verdade, em Brasília, a "reabertura do caso
da morte de JK, a bem da verdade e da história de nosso país".
EXUMAÇÃO
Além da nova perícia no material metálico, Natalini também quer que seja
realizada uma nova análise nos restos mortais do motorista de JK.
O objetivo é investigar se um orifício encontrado no crânio de Ribeiro
durante a exumação de 1996 foi causado por tiro de arma de fogo ou é
consequência de esfarelamento ósseo, como apontado por peritos na época.
O vereador afirmou que a comissão irá verificar o que é necessário para obter uma autorização judicial para a nova exumação.
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