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Sêneca

sábado, 26 de julho de 2014

Falsificação: elemento surpresa na bebida alcoólica; No DF, não são raros os casos de adulteração. Homem é preso pela segunda vez, pelo mesmo crime

Jéssica Antunes
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br

Há sete meses, ele havia sido preso por falsificação de bebidas alcoólicas em Taguatinga Sul. Três dias depois da audiência judicial, voltou a cometer o crime pelo qual respondia em liberdade.   Paulo Roberto Costa, 59 anos, teria sido encontrado pela Polícia Civil com mais de 150 garrafas com conteúdo falsificado de uísques e vodcas em sua casa que, da mesma forma que no caso anterior, funcionava como fábrica clandestina. Dessa vez, a presença de álcool hospitalar chamou atenção. 

A falsificação de bebidas pode colocar a saúde do consumidor em risco. O problema é conseguir descobrir que se trata de um produto adulterado. Isso porque, segundo a polícia, os criminosos possuem técnica suficiente para enganar facilmente os clientes.

E além do dano ao comprador, os fabricantes também saem no prejuízo. No caso de ontem, o suspeito foi denunciado por várias fontes, inclusive por empresas que representam marcas internacionais. 

Quase perfeito  
Foram duas semanas de investigação e três de campana na frente da casa. “Nenhuma garrafa tinha conteúdo original”, afirmou o delegado- chefe  de Combate aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DCPim), Luiz Henrique Dourado Sampaio. 


As receitas eram diferentes para cada tipo de bebida. Para   um uísque oito anos, por exemplo, o suspeito colocava 2/3 de bebida nacional e 1/3 de bebida importada, ambas de qualidade inferior. 

“Existe um mercado negro de revenda de embalagens   em todo o País. Revender, de fato, não é crime. Mas a falsificação é”, diz o delegado. Além disso, lacres e selos da Receita Federal  eram comprados, segundo o preso, na internet ou em São Paulo. “Paulo é um artista. Tinha muito cuidado na hora de lacrar e, no final, era de difícil identificação”, conta.

Produtos
Foram apreendidas uma garrafa de vodca e 27 de uísque, 80 frascos vazios,  uma lata de solvente, um frasco de lubrificante, rótulos, lacres, selos, corante, dois frascos de tinta spray e sete  de álcool 70%, de uso hospitalar. 
“Tudo indica que o líquido  era usado para falsificação, principalmente de vodca. Mas só a análise clínica poderá comprovar”, ressalta. 

O suspeito, entretanto, alegou que o álcool  servia apenas para a limpeza da casa.

Recordações nada agradáveis
Não é difícil encontrar um consumidor que tenha se deparado com bebidas alcoólicas adulteradas. O publicitário Félix Fernandes, 22 anos, por exemplo, conta que já foi vítima do golpe. Certa vez, bebeu um uísque na porta de uma  festa e, depois de entrar no local, ele e os amigos  pediram outra garrafa da mesma bebida, de marca igual. “Assim que eu e meus primos tomamos, percebemos que o gosto era diferente”, lembra. 

Quando eles saíram, compararam as duas garrafas e perceberam pequenas diferenças: “Os lacres não eram iguais, por exemplo”. Félix entende que seja complicado perceber   a falsificação imediatamente, mas que é possível identificar pelo sabor quando já se conhece o produto. 

Essa não é a única situação que o morador de Ceilândia passou. Perto de sua casa, ele encontra facilmente vodca adulterada com preço menor. “As primeiras garrafas que comprei eram originais, mas depois começou a vir falsificada”, afirma.

Presente
O vendedor William Pacheco, 22, também já foi afetado pela adulteração. Ele ganhou uma garrafa lacrada de uísque de um amigo. “Só percebi que era falso depois que tomei e vi que não fazia efeito. Até o gosto era igual ao original”, conta. 

Após consumir, sentiu uma forte dor de cabeça que persistiu até o dia seguinte. O conteúdo que restava foi jogado fora. “Hoje observo o lacre, a cor e vejo se faz algumas bolhas quando a garrafa é balançada”.

 Para Maico Gurgel Fernandes, 29, funcionário de uma tradicional distribuidora de bebidas da região central de Brasília, não há como identificar falsificações. “Nossa garantia é a procedência. Usamos os mesmos fornecedores há muito tempo e, assim, sabemos de onde os produtos vêm”, afirma.

Produto seguia para festas e comércio
No caso de Taguatinga, segundo a polícia, Paulo Roberto Costa tinha uma equipe de vendedores, a quem distribuía a bebida por metade do valor original. Para o consumidor final, as garrafas eram oferecidas a 75% do preço. As falsificações eram destinadas a festas, eventos e estabelecimentos comerciais. Havia, ainda, encomendas de Minas Gerais. A estimativa é de que R$ 5 mil eram movimentados por semana, com lucro de 100% ao fabricante. 
 
Antônio das Chagas Marques, 64, foi o único revendedor preso na operação. Ele já havia sido autuado em 2013, com Paulo. Mas, na época, alegou ser consumidor e, por falta de provas, foi liberado. Desta vez, dez garrafas com conteúdo adulterado encontradas em seu carro o fizeram confessar o esquema. 
Paulo e Antônio responderão por falsificação e estelionato, podendo chegar a 13 anos de reclusão. Além disso, aqueles que compraram dos revendedores e sabiam da situação do conteúdo das garrafas  podem ser penalizados. “Isso configura estelionato e crime exposição ao perigo para a vida ou saúde de outrem”, diz o delegado Luiz Henrique Dourado. Como consequência, pode pegar de um a cinco anos de reclusão.
 
Fique atento
 
Como reconhecer bebida falsificada?
 
1. Exija o selo de reconhecimento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), colocado na tampa das garrafas, e o lacre da Receita Federal. 
2. Verifique informações do importador e distribuidor nas embalagens. 
3. Por lei, todos os produtos destilados devem conter um dosador. 
4. Observe  embalagem da garrafa. Palavras erradas e rótulos arranhados, cortados ou desnivelados podem ser indícios. 
5. Verifique se há impurezas  no líquido.
6. Balance a garrafa de uísque. Se as bolhas se dissiparem rápido, é um indício que a bebida é original. 
7. A cor do uísque deve ser dourada e transparente. 
8. As vodcas verdadeiras não possuem odor, enquanto as falsificadas têm  cheiro forte. 
9. Por sua estrutura química com mais de 50% de álcool, a vodca não congela no freezer. Em alguns casos, teria que alcançar -70°C.
 
Quais sintomas indicam a ingestão de bebida falsificada? 
 
É possível listar como indícios a dor de cabeça e no estômago, tontura e diarréia.
 
Quebre a garrafa
 
O delegado da DCPim,  Luiz Henrique Dourado Sampaio, recomenda que a população compre bebidas alcoólicas apenas de estabelecimentos confiáveis, como supermercados ou distribuidoras. “É importante que, após o consumo, a garrafa seja danificada para evitar comercialização e falsificação. Uma rachadura no bico já deixa o material inutilizável”, acrescenta. Em 2012, uma operação da Polícia Civil  apreendeu dezenas de engradados com cerveja falsificada (foto).
 
Ponto de vista
 
De acordo com a médica gastroenterologista Lilian Lauton, a presença de álcool hospitalar nas bebidas falsificadas é prejudicial devido à presença de metanol. “Quanto maior a dose e o tempo de consumo, mais rapidamente pode ocorrer o desenvolvimento de uma hepatite alcoólica aguda”, explicou.
Segundo ela, isso “depende da susceptibilidade individual associada ao consumo”.  A doença pode levar à morte.
 
Saiba mais
 
Bebidas clandestinas possuem substâncias tóxicas  que podem provocar  cegueira e até levar à morte. É o que indica uma pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio parcial do Icap (International Center for Alcohol Policies).
 
A Secretaria de Segurança Pública informou que atualmente não existe um levantamento específico sobre apreensões de falsificadores de bebidas alcoólicas no Distrito Federal.
 


Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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