Trata-se de um fenômeno natural,
caracterizado pelo atraso na precipitação de chuvas ou a sua
distribuição irregular, que acaba prejudicando o crescimento ou
desenvolvimento das plantações agrícolas.
O problema não é novo, nem exclusivo
do Nordeste brasileiro. Ocorre com freqüência, apresenta uma relativa
periodicidade e pode ser previsto com uma certa antecedência. A seca
incide no Brasil, assim como pode atingir a África, a Ásia, a Austrália e
a América do Norte.
No Nordeste, de acordo com registros
históricos, o fenômeno aparece com intervalos próximos a dez anos,
podendo se prolongar por períodos de três, quatro e, excepcionalmente,
até cinco anos. As secas são conhecidas, no Brasil, desde o século XVI.
As chuvas no semi-árido nordestino
normalmente ocorrem de dezembro a abril. Quando elas não chegam até
março, é sinal de que haverá seca. Muitas vezes fica sem chover dois ou
três anos; em casos excepcionais, a falta de chuvas pode durar até cinco
anos, como aconteceu de 1979 a 1984.
A seca se manifesta com intensidades
diferentes. Quando há uma deficiência acentuada na quantidade de chuvas
no ano, inferior ao mínimo do que necessitam as plantações, a seca é
absoluta. Em outros casos, quando as chuvas são suficientes apenas para
cobrir de folhas mas não permitem o desenvolvimento normal dos plantios
agrícolas, dá-se a seca verde.
Essas variações climáticas prejudicam
o crescimento das plantações e acabam provocando um sério problema
social, uma vez que expressivo contingente de pessoas que habita a
região vive, verdadeiramente, em situação de extrema pobreza.
A seca é o resultado da interação de
vários fatores, alguns externos à região (como o processo de circulação
dos ventos e as correntes marinhas, que se relacionam com o movimento
atmosférico, impedindo a formação de chuvas em determinados locais), e
de outros internos (como a vegetação pouco robusta, a topografia e a
alta refletividade do solo).
Muitas têm sido as causas apontadas,
tais como o desflorestamento, temperatura da região, quantidade de
chuvas, relevo topográfico e manchas solares. Ressalte-se, ainda, o
fenômeno "El Niño", que consiste no aumento da temperatura das águas do
Oceano Pacífico, ao largo do litoral do Peru e do Equador.
A ação do homem também tem
contribuído para agravar a questão, pois a constante destruição da
vegetação natural por meio de queimadas acarreta a expansão do clima
semi-árido para áreas onde anteriormente ele não existia.
A seca é um fenômeno ecológico que se
manifesta na redução da produção agropecuária, provoca uma crise social
e se transforma em um problema político.
As conseqüências mais evidentes das
grandes secas são a fome, a desnutrição, a miséria e a migração para os
centros urbanos (êxodo rural).
Geralmente o problema da seca costuma
ser exagerado, de tal maneira que a maioria das pessoas pensa que ela é
a maior causa da pobreza no Nordeste. Na verdade, o problema principal
do Nordeste é de ordem social e tem origem não na escassez ou falta de
chuvas, mas na desigual distribuição da terra e da renda gerada na
região. Ao transformar a seca na grande culpada pelos males nordestinos,
está-se criando o chamando “mito da seca”.
Simultaneamente, existe a tão falada
mas nunca erradicada “indústria da seca”. Trata-se de um conjunto de
expedientes ou procedimentos de poderosos grupos nordestinos que se
valem do fenômeno e sobretudo do mito da seca para colherem benefícios
governamentais em proveito próprio.
A questão da seca não se resume à
falta de água. A rigor, não falta água no Nordeste. Faltam soluções para
resolver a sua má distribuição e as dificuldades de seu aproveitamento.
É "necessário desmistificar a seca como elemento desestabilizador da
economia e da vida social nordestina e como fonte de elevadas despesas
para a União ...desmistificar a idéia de que a seca, sendo um fenômeno
natural, é responsável pela fome e pela miséria que dominam na região,
como se esses elementos estivessem presentes só aí".
Alimentando de forma dramática o
noticiário sobre a seca veiculado pelos meios de comunicação, esses
grupos conseguem obter do governo verbas e auxílios a título de socorro
às regiões atingidas pela falta de chuvas.
Porém, a ajuda governamental
beneficia muito mais os membros de tais grupos do que a população
efetivamente castigada pela seca. Ao controlarem a distribuição do
dinheiro recebido, fazendeiros e políticos de influência – vereadores,
deputados etc. – manipulam a ajuda a ser concedida, dirigindo-a para
pessoas e lugares de onde possam obter vantagens ou favores: afilhados
ou parentes, redutos eleitorais, etc. Ao mesmo tempo, sob a argumento de
que ficaram arruinados com a seca, empresários não só deixam de pagar
suas dividas bancárias, como ainda conseguem novos empréstimos em
condições especiais.
No que se refere às tentativas de
solução do problema, o governo é influenciado a conseguir grandes obras,
como barragens e enormes açudes, que consomem formidáveis verbas
públicas. A maior parte dessas verbas vai para o pagamento das empresas
construtoras, muitas vezes ligadas direta ou indiretamente a pessoas que
fazem parte dos grupos dominantes regionais. Além disso, as obras
grandiosas geralmente beneficiam apenas aos grandes fazendeiros e não
aos que realmente sofrem com a seca – os pequenos produtores. Quando de
pequeno porte, os açudes construídos pelo governo são feitos em terras
de grandes fazendeiros, que integram os grupos favorecidos pela
“indústria da seca”.
Nessas condições, não é de estranhar
que o problema das secas não se resolva. Sua efetiva solução deitaria
por terra os interesses mesquinhos de grupos poderosos, que conseguem
vantagens com a pobreza e o sofrimento de milhares de nordestinos.
A tragédia da seca encobre interesses
escusos daqueles que têm influência política ou são economicamente
poderosos, que procuram eternizar o problema e impedir que ações
eficazes sejam adotadas. A idéia de resolver o problema da água no
semi-árido foi, basicamente, a diretriz traçada pelo Governo Federal
para o Nordeste e prevaleceu, pelo menos, até meados de 1945. Na época
em que a Constituição brasileira de 1946 estabeleceu a reserva no
orçamento do Governo de 3% da arrecadação fiscal para gastos na região
nordestina, nascia nova postura distinta da solução hidráulica na
política anti-seca, abandonando-se a ênfase em obras em função do
aproveitamento mais racional dos recursos.
Como ações emergenciais, tem-se
apelado para a distribuição de alimentos, por meio de cestas básicas e
frentes de trabalho, criadas para dar serviço aos desempregados durante o
período de duração das secas, dirigidas para a construção de estradas,
açudes, pontes.
Não é possível se eliminar um
fenômeno natural. As secas vão continuar existindo. Mas é possível
conviver com o problema. O Nordeste é viável. Seus maiores problemas são
provenientes mais da ação ou omissão dos homens e da concepção da
sociedade que foi implantada, do que propriamente das secas de que é
vítima.
Soluções implicam a adoção de uma
política oficial para a região, que respeite a realidade em que vive o
nordestino, dando-lhes condições de acesso à terra e ao trabalho. Não
pode ser esquecida a questão do gerenciamento das diretrizes adotadas,
diante da diversidade de órgãos que lidam com o assunto. Medidas
estruturadoras e concretas são necessárias para que os dramas das secas
não continuem a ser vivenciados.
Referência
MOREIRA, João Carlos / SENA, Eustáquio de. “Trilhas da Geografia – O passado e o prsente. Volume 6.
http://www.fundaj.gov.br/docs/pe/pe0114.html
Autoria: Silvana Bahia Alves
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