Há cerca de um mês, o ex-presidente Lula procurou o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, para tentar adiar o julgamento
do mensalão. O encontro ocorreu em Brasília, no escritório de advocacia
do ex-presidente do STF e ex-ministro da Justiça, Nelson Jobim, amigo
comum dos dois. Em troca da ajuda, Mendes ganharia proteção na CPI que
investiga as relações de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira,
com políticos e empresários. As informações foram publicadas na revista
Veja .
No encontro, Lula teria citado uma viagem a Berlim em que Mendes se
encontrou com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), hoje investigado
por suas ligações com Cachoeira. Revelando ter ficado perplexo com o
comportamento e as insinuações do petista, Mendes disse que não tem
motivo para preocupação com as investigações e que o ex-presidente
poderia "ir fundo na CPI". A tentativa do ex-presidente faria parte de
uma estratégia para aumentar a pressão sobre o STF. Se o julgamento for
adiado, muitos crimes seriam prescritos.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como
operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e
ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio
Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram
denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio
respondem ainda por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da
República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com
isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três
anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP,
morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do
suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus
sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das
funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles
respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção
ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José
Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados
por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O
publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a
ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro
da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por
peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a
processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A
denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB.
Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações
finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus
restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz
Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto
Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF
apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes
Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico
não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo
afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones
antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador
pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com
táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre
reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no
Senado em 27 de março. No dia seguinte, o PSOL representou contra o
parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski
autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2
de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia
resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a
desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as
denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes
públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior
recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça
parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um
funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam
encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT),
do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de
abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
PortalTerra
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