O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o
senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM), afirmou nesta
terça-feira que pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para
anular a decisão do Conselho de Ética de abrir um processo disciplinar
contra o senador que pode resultar em sua cassação.
"A decisão foi política. O princípio da ampla defesa não foi
cumprido. Então existe a hipótese jurídica de ir ao Supremo. Mas vou
conversar com o senador porque ele pode optar pela via política e não
recorrer ao STF. Só acho estranho o Conselho ter tomado essa decisão
porque até para ter uma decisão política é preciso ter uma base
jurídica", disse Kakay.
Kakay argumenta que o Conselho não respeitou o amplo direito à
defesa do senador ao não permitir que fosse dado mais prazo para que a
defesa respondesse às acusações do relator do processo no colegiado, o
senador Humberto Costa (PT-PE).
O relatório preliminar, aprovado nesta terça-feira por unanimidade,
lista a sucessão de fatos que levaram a Procuradora-Geral da República
a aceitar a denúncia contra Demóstenes. Humberto Costa cita os
aparelhos de rádio habilitados nos Estados Unidos utilizados pelo
senador e por Cachoeira e o repasse de dinheiro de jogo ilegal às
campanhas do parlamentar.
Em outros pontos, Costa também acusa Demóstenes de ter: conhecimento
das atividades ilícitas de Cachoeira; atuado para prevalecer os
interesses do bicheiro no Senado; mentido em plenário ao afirmar que
sempre atuou de forma contrária à legalização dos jogos de azar;
recebido presentes de casamento de alto valor de Cachoeira; utilizado
um avião particular pago pelo contraventor.
Para Kakay, a decisão do Conselho de abrir processo disciplinar não
surpreendeu nem a ele e nem ao senador, que está em Goiânia. "Não tinha
nenhuma ilusão que para a abertura do processo esse seria o resultado.
É um massacre político. Todo mundo viu o próprio fundamento de alguns
senadores, que é o de dar resposta à sociedade. Então nada é mais
político do que isso".
O advogado adiantou que vai pedir que o bicheiro Carlinhos Cachoeira
seja ouvido como testemunha de defesa de Demóstenes. Questionado sobre
as declarações do advogado do contraventor, Márcio Thomaz Bastos, de
que Cachoeira poderia ficar calado caso não tivesse acesso a todo o
inquérito, Kakay preferiu ser otimista.
"Na CPMI ele é obrigado a comparecer, aqui no Conselho de Ética não.
A decisão se ele vai falar ou não compete a ele e ao advogado. Fizemos
um requerimento de defesa para que ele testemunhe porque seria
interessante ouvi-lo. Mas a decisão é dele e do advogado e espero que
seja favorável", disse o advogado.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF
apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes
Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico
não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo
afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones
antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador
pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com
táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre
reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no
Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o
parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski
autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2
de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia
resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a
desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as
denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes
públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior
recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça
parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um
funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam
encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT),
do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de
abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
Terra
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