O sorriso fácil de seu Joaquim Filho, 55, contrasta com a tristeza que
ele enfrenta desde que viu mais 75% da sua plantação de coco padecer em
decorrência da falta de chuvas no Sertão do Estado. O agricultor mora
com a família na zona rural do distrito de São Gonçalo, no município de
Sousa. Em novembro de 2012, vendeu as oito cabeças de gado, compradas
com muito sacrifício ao longo de toda uma vida de trabalho sob o sol
forte do Sertão. “Só Deus sabe o quanto eu trabalhei para conseguir
comprar as cabeças de gado, mas não tinha mais condições para manter”,
contou.
A cabeça de gado que em condições normais custaria R$ 2 mil, foi
entregue por R$ 600,00. “Os animais iam morrer de fome e de sede. Minha
única saída foi vender”, declarou. Para seu Joaquim, restou apenas uma
vaca e um bezerro, os quais ele cuida com todo o zelo possível, com medo
de também ter que vendê-los. “É uma situação difícil. Essa seca tem
sido muito cruel com todos nós aqui do Sertão”, disse.
Quando viu a equipe de reportagem chegar, seu Joaquim fez questão de
mostrar a plantação de coco dizimada. Enquanto abria a cerca do roçado
com as mãos calejadas, o agricultor contava do empréstimo que fez em
2009, no valor de R$ 5,6 mil.
“Peguei o dinheiro para investir na plantação de coco. A primeira
parcela será paga em julho próximo, mas já não tenho mais nada. Nem sei
como vai ser para pagar ao banco”, disse. Da principal fonte de renda da
família de seu Joaquim, o que sobrou foram as folhas secas e a
lembrança de dias produtivos de trabalho.
A plantação de coco fica no perímetro irrigado das Várzeas de Sousa,
local onde relatos como o de seu Joaquim se multiplicam. Dos 500 pés de
coco plantados por ele e os filhos, restaram 114, os quais também estão
ameaçados pela falta de chuvas na região. “Só não estou passando fome
porque minha mulher é prestadora de serviço no Estado e dois dos meus
quatro filhos também trabalham”, afirmou. “Se fosse depender da
plantação de coco, a gente não conseguiria nem fazer a feira”, afirmou.
Ele contou ainda que a cada dois meses conseguia retirar dois mil
cocos. Agora a produção caiu para zero. Diante da situação difícil, seu
Joaquim pensou em ir para a casa das irmãs, em São Paulo, na esperança
de arranjar um emprego, mas desistiu por conta da idade e das dores na
coluna que muito o incomoda. “O jeito é ficar por aqui mesmo e ir
sobrevivendo do jeito que Deus quiser”, frisou. Há quase um ano, a
mulher de seu Joaquim assumiu as responsabilidades financeiras da casa.
“Isso para um homem do campo é muito vergonhoso”, afirmou.
O agricultor disse que considera esta a pior seca já enfrentada por
ele. “Na estiagem de 1993 eu estava começando ainda, não tinha gado e
minha terra era bem menor do que é hoje”, contou.
O patrimônio modesto que conseguiu foi resultado de muito trabalho,
segundo ele informou. “Eu nunca vi uma Seca tão forte como a que estamos
vivendo. É muito sofrimento”, declarou.
Em 2011, quando conseguiu lucrar com a plantação de cocos e a
produção de leite, seu Joaquim reformou a casa onde mora com a família.
Colocou cerâmica na frente e no piso e trocou o telhado velho por um
novo. “Agora ficou melhor para receber as visitas, a casa está mais
bonita”, disse. Seu Joaquim revelou que tem muitos outros planos, mas
não tem ideia de quando serão realizados. “A situação agora é outra.
Sempre digo que a gente não pode gastar mais do que tem”, ressaltou.
A rotina de seu Joaquim atualmente é bem diferente do que ele gosta
de fazer, que é trabalhar. A obrigação dele agora se resume a retirar os
nove litros de leite da vaca que restou (cada litro é vendido a R$
1,25). Mesmo sem perspectivas de chuvas para a região, ele disse que tem
esperança de que dias melhores virão. “Tenho muita fé em Deus. Por
enquanto vou rezando para que Ele mande chuva para gente”, afirmou.
Valéria Sinésio
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