As dificuldades enfrentadas pela Rede Sustentabilidade
para receber a aprovação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por não
ter conseguido certificar 50 mil das 492 mil assinaturas de apoiamento
de eleitores exigidas em lei começa a levar deputados que apoiaram a
ex-senadora Marina Silva a procurar uma alternativa à legenda da
pré-candidata à Presidência da República.
Embora se manifestem oficialmente com otimismo em relação
às chances de criação da sigla, os deputados federais Alfredo Sirkis
(PV-RJ), Domingos Dutra (PT-MA), Miro Teixeira (PDT-RJ), Walter Feldman (PSDB-SP)
e José Antônio Reguffe (PDT-DF) conversam com colegas da Câmara sobre
os rumos que podem tomar caso o registro do partido seja negado pelo TSE
na sessão desta quinta-feira (3).
Articulador da Rede no Maranhão, onde pretende disputar uma
vaga no Senado pelo partido de Marina, o deputado Domingos Dutra (PT)
pode ir parar no PSB do presidenciável Eduardo Campos, atualmente
governador de Pernambuco. “Eu tenho uma simpatia grande pelo governador
Eduardo. Ele tem um passado muito bom, eu conheci o avô dele (Miguel
Arraes, ex-governador pernambucano)”, diz.
Segundo Dutra, o fato de “a base do PSB no Maranhão ser a
mesma do PT” – integrada por pequenos agricultores – amplia o poder de
atração pessebista. Ele garante que não fica no PT, já que, de acordo
com o deputado, a legenda “está no curral do Sarney”. “O caminho é a
Rede, porque ajudei nas assinaturas, mas sempre deixei claro que a minha
ajuda não estava condicionada à filiação. Eu só me filio dependendo de
como vão tratar o Maranhão”, afirma.
Articulador da Rede: Walter Feldman entrega pedido de desfiliação do PSDB
Ele garante que ficaria na Rede somente depois de Marina
assumir o compromisso de apoiar Flávio Dino (PCdoB-MA) para o governo
maranhense. A pré-candidata à Presidência, contudo, tem demonstrado mais
afinidade em relação à deputada estadual Eliziane Gama (PPS-MA), que
pretende disputar a sucessão de Roseana Sarney.
A proximidade de Marina e Liziane teria sido o motivo
para o deputado Simplício Araújo trocar a filiação quase acertada com a
Rede pelo Solidariedade
, partido criado na semana passada pelo deputado Paulo Pereira da Silva
(SP), o Paulinho da Força Sindical. “Ela (Liziane) tem uma ligação muito
boa com a Marina, também é evangélica e faz um bom mandato”, observa
Dutra.
Expulsão
Walter Feldman (PSDB-SP) afirma que, com ou sem a criação
da Rede, não deve disputar novamente uma vaga na Câmara em 2014.
Articulador do novo partido de Marina, Feldman entregou nesta quarta-feira o seu pedido de desfiliação do PSDB
. Sem legenda para concorrer em 2014, o abrigo no partido da ex-senadora
e o apoio dela aos planos de disputar o governo de São Paulo teriam
efeito de renascimento político para Feldman.
Diante da possível recusa do TSE sobre a criação da Rede,
Feldman tem sido visito nos corredores da Câmara em conversas com
Paulinho da Força. O deputado nega negociar abrigo no Solidariedade,
afirmando que se manterá neutro caso a Rede não saia. “Eu não tenho
conversado sobre a candidatura (com Marina). Estarei com a Marina aonde
ela for”, diz.
Congresso: Interessados no troca-troca eleitoral buscam alternativa à Rede
Alfredo Sirkis (PV-RJ) é outro nome certo na Rede, da
qual tem reiterado publicamente ser um dos fundadores, e pode ficar sem
legenda para se manter na Câmara após 2014. Segundo ele, a executiva
nacional do PV já sinalizou que não pretende lhe dar abrigo para renovar
o mandato de deputado federal em função da campanha aberta pró-Rede.
“Eles têm falado, mas nada foi formalizado”, pondera.
Sirkis diz confiar na aprovação pelo TSE e afirma que não
se aproximou de nenhum outro partido. “Se a Rede não sair será outra
realidade e vamos ter de avaliar”, diz.
Estacionados no PDT
Outro deputado que tem como plano A o ingresso na Rede,
José Antônio Reguffe aos poucos se rearticula para continuar no PDT.
Candidato do partido de Marina para disputar o governo do Distrito
Federal, ele teria articulado a filiação de vários políticos de Brasília
ao novo partido, para, assim, fortalecer sua chapa contra o atual
governador Agnelo Queiroz (PT-DF).
O problema é que o grupo atraído por Reguffe estaria
frustrado com a lentidão do processo de criação da Rede, ameaçando não
se filiar em cima da hora na sexta-feira (4) – único dia útil que a Rede
terá para formalizar o ingresso simpatizantes com mandatos ou dispostos
a concorrer em 2014, caso consiga o registro no TSE.
O deputado nega estar negociando tanto com a Rede quanto
com o PDT. Apesar da negativa, o Reguffe recebeu o na tarde de ontem
senador Cristovam Buarque para um café na Câmara. Cacique do PDT no
Distrito Federal, Buarque já afirmou ao iG que quer Reguffe como candidato ao governo distrital
.
Miro Teixeira (PDT-RJ) é outro apoiador da Rede que deve
permanecer no partido atual caso o novo partido naufrague. O deputado
tem tomado o cuidado de declarar que apenas que apoia a criação da
legenda de Marina por princípios democráticos e que o endosso não está
atrelado a uma filiação. Com isso, segundo amigos do deputado, ele
acredita arrefecer ânimos de pedetistas dispostos a acusá-lo de
infidelidade partidária, como ocorre no PSDB com Feldman, mantendo a
legenda atual como casa segura em caso de naufrágio da Rede.
Filiações interesseiras
Caso a Rede Sustentabilidade seja autorizada pelo TSE, o
partido de Marina pode nascer com a menor bancada de deputados entre as
legendas novatas autorizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – a
Corte Suprema já permitiu a criação do PROS
e Solidariedade
. Em reservado, um dos idealizadores da Rede diz acreditar que será difícil chegar a 10 deputados.
O quadro põe em dúvida a capilaridade estadual que a
legenda pode atingir na corrida presidencial do próximo ano. O cenário
levou a Rede a montar um “grupo de prospecção” que pretende trabalhar
intensamente na sexta-feira, caso o TSE conceda o registro. O grupo
prepara as fichas de filiação de personalidades políticas que já
manifestaram interesse em migrar para o partido, incluindo assessoria no
processo de desfiliação de partidos atuais.
Críticos internos da Rede avaliam que Marina devia ter
iniciado a coleta de assinaturas e a apresentação do processo no TSE em
2011, a tempo de construir uma base de vereadores e prefeitos capaz de
atrair um número consistente de deputados federais e senadores para
sustentar a disputa de 2014. Marina disse ao iG
que evitou as “filiações interesseiras” do troca-troca partidário (veja
o vídeo abaixo), afirmando que seu partido deve filiar apenas quadros
identificados com o programa partidário e ideológico delineado por ela.
Agência Brasil
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