Ninguém se preocupa em ter uma vida virtuosa, mas apenas com quanto tempo poderá viver. Todos podem viver bem, ninguém tem o poder de viver muito.

Sêneca

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A simbologia do perdão

Perdoa, se eu não visualizei a tua dor, e nem fui capaz de amenizar tua tristeza. Perdoa se fiz do teu corredor de lágrimas, passarela para esbanjar as minhas alegrias.

Perdoa por não ouvir a tua voz trêmula que buscava no infinito um ouvido para escutar.

Perdoa pela dor maior que teimava em aumentar, e por não entender as tuas quedas, me tornei insensível.

Perdão por não ter sido indulgente com tuas falhas, quaisquer que elas fossem, e com severidade das minhas palavras, levei-te a solidão.

A misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não pode ser brando ou pacifico, e se perde no humilhante desprazer de não saber perdoar.

O ódio e o rancor denotam alma sem grandeza, o esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima de agressões que lhe possam desferir.

A misericórdia é calma, tem toda mansidão e caridade, o ódio é sempre ansioso de sombria suscetibilidade e cheio de fel.

Jesus disse: perdoarás, mas ilimitadamente; perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna a criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injurias

Faz-se necessário que o perdão dos lábios esteja em conjunto com o perdão do coração, pois o perdão verdadeiro é aquele que lança o véu sobre o passado.

O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar dos grandes homens, o rancor é sempre sinal de baixeza e inferioridade, saiba que o grande perdão se reconhece por atos e não por palavras.

Deus não se satisfaz com aparências, Ele sonda o recesso do coração e os mais secretos pensamentos, se a verdade exposta for pura, o céu será a maior testemunha.

O mundo está cheio de criaturas que têm nos lábios o sorriso e no coração o veneno; que são brandas, desde que nada as agaste, mas que mordem á menor contrariedade.

Possuem a língua de ouro e afável quando falam pela frente, se muda em dardo peçonhento, quando estão por trás, trazendo a desgraça sem razões aparentes.

Não basta que dos lábios surjam leite e mel, se o coração de modo algum não estiver associado à permanente arte de compreender, pois assim só haveria hipocrisia.

Não há na realidade o perdão, quando você diz que tudo está perdoado, mas nunca esquecido, no perdão tudo desaparece e não permite nem um rastro de cicatrização.

Amar é trazer para si o peso e sofrimento do próximo; é destituir o que existe de ruim e buscar pela mesma estrada cultivar a arte de saber enxugar uma lágrima.

 
Rafael Holanda
* Médico.

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