O premiê britânico, David Cameron, disse: "Tomei conhecimento, com
grande tristeza, da morte de lady Thatcher. Perdemos uma grande líder,
uma grande primeira-ministra e uma grande britânica."
O Palácio de Buckingham informou que a rainha se entristeceu com a
notícia e vai enviar uma mensagem particular de condolências à família
de Thatcher.
Primeira mulher a ser eleita para liderar um país ocidental importante,
lady Thatcher, título que recebeu depois de deixar o governo, foi
primeira-ministra por 11 anos ininterruptos, o período mais longo de
qualquer premiê britânico no cargo desde 1827.
Ela só foi deposta em 1990 por um golpe interno do Partido Conservador,
depois de sua defesa implacável do "poll tax" (imposto cobrado por
pessoa, e não por imóvel) levar a protestos na praça Trafalgar, em
Londres.
Thatcher tinha 87 anos, e sua saúde vinha se deteriorando havia alguns
anos; ela sofria de demência senil. A morte de sir Denis Thatcher, seu
marido por 50 anos e maior confidente, intensificou seu isolamento em
sua aposentadoria, que acabou sendo frustrante, não obstante sua
atividade mundial dinâmica nos primeiros anos depois de afastar-se da
chefia do governo.
Após uma série de pequenos AVCs em 2002, Thatcher afastou-se da vida
pública, impossibilitada de fazer o tipo de pronunciamento incisivo que
tinha sido seu ponto forte enquanto ela chefiou o governo --e também
depois.
Durante a Guerra Fria, a chamada "dama de ferro" foi uma aliada
importante do presidente americano Ronald Reagan no confronto final com a
União Soviética, que acabou por fragmentar-se sob as pressões
reformistas lideradas por Mikhail Gorbachev, líder do Kremlin com quem
Thatcher, numa declaração que ficaria famosa, afirmou que estaria
disposta a "fazer negócios".
Graças a isso, muitos eleitores comuns em países antes pertencentes ao
bloco soviético a viam como corajosa defensora da liberdade deles, visão
essa amplamente compartilhada na opinião pública majoritária dos EUA
--mas não no Reino Unido nem em países que eram parceiros chaves da
União Europeia.
Margaret Thatcher foi uma política conservadora pouco destacada
--apelidada de "ladra de leite" quando foi secretária da Educação no
governo de Edward Heath (1970-1974), por ter abolido o leite gratuito
para crianças de 7 a 11 anos nas escolas públicas-- até 1975, quando
inesperadamente derrubou seu chefe, duas vezes derrotado, e assumiu a
liderança do Partido Conservador.
Em dez anos, ela se tornou conhecida em todo o mundo --tanto admirada
quanto detestada-- por suas reformas domésticas pró-mercado e suas
atitudes implacáveis na política externa, incluindo sua batalha
prolongada contra o IRA, que quase conseguiu assassiná-la com uma bomba
plantada no Grand Hotel em Brighton, em 1984.
Dentro do Reino Unido, a doutrina emergente do thatcherismo pedia a
desnacionalização das indústrias estatais --a palavra nova
"privatização" foi adotada em muitos países-- e a derrota do
sindicalismo militante, especialmente do NUM (Sindicato Nacional dos
Mineiros), cuja greve de um ano de duração (1984-85) foi amarga e
traumática.
Reforçada pela receita recém-chegada das reservas petrolíferas
britânicas no Mar do Norte, Thatcher teve margem de manobra para
reformar a economia industrial envelhecida de maneiras que seus
predecessores no pós-guerra não tinham podido. Ela aproveitou a
oportunidade para calar as vozes de seus adversários, incluindo os
moderados em seu próprio partido e gabinete.
Mas Thatcher também usou seus deslocamentos na União Europeia, onde
marcava presença por levar uma bolsa, e não uma pasta de negócios, para
obter concessões para o Reino Unido --"meu dinheiro", como dizia. Ela
não teve sucesso igual em repelir as ambições centralizadoras do
"império belga", como descrevia a Comissão Europeia, especialmente nos
anos em que esta foi presidida pelo socialista francês Jacques Delors.
Outro sinal de que ela estava perdendo contato com as realidades do
momento se deu quando Thatcher, simpatizante de longa data do regime do
apartheid na África do Sul, minimizou a importância de Nelson Mandela,
tachando-o de terrorista.
Seus aliados na imprensa tabloide, notadamente o "The Sun", de Rupert
Murdoch, a incentivavam nesse sentido. E, à medida que a economia
britânica se recuperou da recessão grave provocada por sua própria
prescrição monetarista --para amansar os sindicatos e curar a
inflação--, por um período breve Thatcher pareceu invencível.
Mas o poder irrestrito, a derrota ou o afastamento da vida pública de
aliados que a tinham refreado, levaram a erros e a sua impopularidade
crescente. Quando sir Geoffrey Howe, nominalmente seu vice, acabou
divergindo totalmente de Thatcher --principalmente em torno da Europa--,
seu devastador discurso de renúncia levou Michael Heseltine a
desafiá-la, disputando a liderança do Partido Conservador.
Isso vinha sendo esperado desde que Heseltine tinha renunciado ao cargo
de secretário da Defesa em função do caso dos helicópteros Westland, em
1986, o momento anterior em que Thatcher tinha chegado mais perto da
morte política.
Heseltine não permitiu que Thatcher tivesse uma vitória inconteste no
primeiro turno de votação --na época limitada a parlamentares--, e ela
preferiu ceder seu lugar a sir John Major a correr o risco de perder
para Heseltine no segundo turno.
Aposentada da vida pública, Margaret Thatcher escreveu sua autobiografia
em dois volumes de grande sucesso e fez campanha enérgica em favor da
Fundação Thatcher, que promoveu seus valores --o livre mercado e as
liberdades anglo-saxãs-- em todo o mundo. Ela se tornou moderadamente
rica como palestrante e passou o final de sua vida no bairro de
Belgravia, em Londres.
Tradução de CLARA ALLAIN
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