Giancarlo Lepiani, de Belo Horizonte
Felipão e Bernard na partida contra a Alemanha, em Minas Gerais - David Gray/Reuters
A Alemanha, agora recordista em número de finais disputadas
(oito, contra sete do Brasil), segue para o Rio de Janeiro, onde espera
concluir sua passagem devastadora pelo Brasil conquistando o
tetracampeonato mundial
A decisão da primeira Copa do Mundo realizada no Brasil, no dia 16
de julho de 1950, no Maracanã, deixou de ser o episódio mais desastroso
da história centenária do futebol pentacampeão. Essa página foi escrita
nesta terça-feira, 8 de julho de 2014, no Mineirão, com a mais trágica
derrota já sofrida pela seleção. O segundo Mundial sediado no país
terminará com a equipe da casa tentando reunir forças para disputar
apenas uma medalha de bronze, um prêmio de consolação que ficará
esquecido no extenso currículo de glórias da equipe. A finalíssima será
disputada pela Alemanha, que goleou o Brasil de forma arrasadora e
inquestionável, 7 a 1, numa tarde de pesadelo em Belo Horizonte. Depois
de um bom início, em que a equipe do técnico Luiz Felipe Scolari
procurou compensar a falta de Neymar com um jogo combativo e aguerrido, o
Brasil desabou em questão de minutos. Para espanto dos torcedores –
que, depois de brigar por um lugar no estádio na semifinal da Copa,
acabaram amargando um longo sofrimento nas arquibancadas –, o Brasil foi
superado de forma inapelável e traumática, na maior goleada já aplicada
na equipe.
Se a seleção foi empurrada pela torcida mesmo nos momentos difíceis
de sua campanha na Copa – como no empate sem gols com o México, a
classificação nos pênaltis contra o Chile e a vitória apertada contra a
Colômbia –, a fidelidade do público não resistiu ao massacre alemão. Os
torcedores perderam a paciência, xingaram Fred, vaiaram os erros dos
demais integrantes da equipe e assistiram em silêncio ao fim melancólico
do jogo. Depois de quase quatro décadas sem perder uma partida oficial
em casa (o último revés havia acontecido no mesmo Mineirão, pela Copa
América, contra o Peru, em 1975), o Brasil fica pelo caminho, tendo mais
um compromisso neste Mundial: uma viagem a Brasília, onde decide o
terceiro lugar, no sábado, contra o perdedor da outra semifinal, entre
Argentina e Holanda, na quarta, em São Paulo. A Alemanha, agora
recordista em número de finais disputadas (oito, contra sete do Brasil),
segue para o Rio de Janeiro, onde espera concluir sua passagem
devastadora pelo Brasil conquistando o tetracampeonato mundial.
Blitzkrieg - Com a escalação de Bernard, nascido em
Belo Horizonte e cria do Atlético-MG, a seleção de Felipão apostou na
velocidade para tentar compensar a ausência de Neymar. Na execução do
hino brasileiro, o capitão David Luiz, que assumiu a braçadeira de
Thiago Silva, suspenso, segurou a camisa 10 do craque lesionado. O papel
de Neymar, pela faixa central do campo, ficou com Oscar, com Hulk
aberto pela esquerda e Bernard pela direita. A seleção de Felipão
começou a partida sufocando os alemães, com uma marcação fortíssima e
buscando acelerar o ritmo do jogo. O Brasil ganhava quase todas as bolas
divididas, inflamando a torcida. O sistema defensivo alemão impedia que
a pressão brasileira fosse transformada em chances de gol, mas o time
da casa controlava as ações. O Brasil, porém, esfriou logo no primeiro
lance de perigo dos alemães, convertido em gol com apenas 10 minutos de
partida, depois de escanteio batido por Toni Kroos. Thomas Muller
finalizou sozinho, de pé direito, com calma e categoria, abrindo o
placar.
Inicialmente, o time da casa até mostrou um bom poder de reação:
mesmo em desvantagem no placar, a Brasil não se abateu e seguiu buscando
o jogo. Agora, porém, havia uma muralha alemã pela frente – os
tricampeões mundiais, bem postados em campo, contavam com sua
organização e disciplina tática para não só defender bem como também
deixar a partida ao seu gosto. Aos 22, a missão dos brasileiros ficava
ainda mais difícil: Klose dominou na entrada da área e bateu rasteiro;
Júlio César defendeu, mas o próprio Klose aproveitou o rebote para fazer
2 a 0, quebrando o recorde histórico de Ronaldo. Agora, o veterano
artilheiro somava dezesseis gols em Copas do Mundo – e a seleção
pentacampeã começava a desabar. Aos 23, o massacre passava a se
desenhar: Lahm avançou pela direita, cruzou rasteiro e viu Kroos
finalizar de pé esquerdo, com muita tranquilidade, aumentando para 3 a
0. A máquina alemã precisou de mais apenas um minuto para marcar de
novo, com Khedira servindo Kroos, de novo. Aos 28 foi a vez do próprio
Khedira deixar sua marca, de pé direito, recebendo de Ozil.
Com menos de meia hora de jogo, o Brasil sofria sua maior goleada em
Copas: 5 a 0 (na única outra ocasião em que sofreu tantos gols, na Copa
de 1938, acabou vencendo por 6 a 5). E os alemães, impiedosos, queriam
mais: agora o Brasil estava rendido, presa fácil para uma equipe que
parecia funcionar com perfeição em todos os seus setores. Depois do
choque, com um longo período de silêncio, a torcida voltava a gritar
“Brasil”, mas de forma tímida. Em campo, os jogadores pareciam não ter
mais forças para responder: perplexos, corriam desorientados, incapazes
de segurar os oponentes. A blitzkrieg alemã no primeiro tempo terminava
com um saldo brutal: mesmo com menos tempo de posse de bola, 47% contra
53%, dez finalizações e 210 passes trocados. Insatisfeita com o desfecho
catastrófico do sonho do hexa, o público no Mineirão começava a xingar –
não Felipão nem qualquer jogador, mas sim a presidente Dilma Rousseff,
repetindo o coro ofensivo da partida de abertura, em São Paulo. Mas
também sobrou para a equipe, claro: pela primeira vez na Copa do Mundo, a
seleção brasileira saía de campo sob vaias.
Calvário - O Brasil voltou para o segundo tempo com
duas alterações: Fernandinho deu lugar a Paulinho e Hulk foi substituído
por Ramires. Na Alemanha, o recordista Klose deu lugar a Schürrle
depois de poucos minutos de jogo. Os brasileiros começaram tentando dar
uma satisfação ao torcedor, buscando o gol de honra. Com um futebol
extremamente pobre, as chances brasileiras, porém, eram escassas, e o
goleiro Neuer quase não trabalhou. Júlio César, por sua vez, continuava
sendo submetido a um calvário. Muller, aos 15, bateu de esquerda e
exigiu grande defesa do goleiro brasileiro. Aos 23, a Alemanha ampliou,
desta vez com Schürrle, que recebeu assistência de Phillipp Lahm e bateu
de pé direito, matando Júlio. Logo em seguida, Fred deu seu lugar a
Willian – e continuou sendo vaiado, inclusive quando era mostrado no
telão. O técnico Joachim Löw começava a poupar seus titulares para a
decisão: faltando 15 minutos, Khedira foi substituído por Draxler. O
ritmo alemão, no entanto, não diminuiu: Schürrle fez o sétimo aos 34,
com uma finalização perfeita, no ângulo, levando parte da torcida a
aplaudir os europeus. Nunca uma seleção havia marcado sete gols numa
semifinal de Copa. A torcida mineira também gritou "olé" durante as
trocas de passes entre os alemães, que saem do Mineirão como favoritos
absolutos à conquista do título, seja contra os argentinos, seja contra
os holandeses. Já nos acréscimos, Oscar recebeu lançamento longo, cortou
seu marcador e bateu de pé direito, tirando o zero do placar, mas não a
sensação de que a semifinal da Copa de 2014 foram os piores 90 minutos
da história do futebol brasileiro.
Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário