O
grande mistério de um dos casos de maior repercussão da história
recente do país pode ser revelado hoje, quando a Polícia Civil fará nova
busca pelo corpo da modelo Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno
Fernandes, em um lote vago no Bairro Santa Clara, em Vespasiano, na
Grande BH. O novo capítulo do caso de horror é protagonizado por Jorge
Luiz Rosa Sales, de 21, primo do atleta, que alegou uma crise de
consciência, deu uma entrevista sobre sua participação no crime e levará
a polícia ao local onde diz ter sido feita a desova. Desde o
assassinato de Eliza, em junho de 2010, já foram feitas 10 buscas pelo
corpo.
O
rapaz prestou depoimento ontem durante três horas no Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Bairro Lagoinha, na Região
Nordeste de BH. Ele afirmou à polícia que Eliza foi levada ao local por
ele, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e o ex-policial civil José
Aparecido dos Santos, o Bola.
Jorge
manteve a versão de que ela morreu asfixiada por Bola, depois de levar
uma gravata do ex-policial, com a ajuda de Macarrão. Em seguida, Bola
decepou a mão dela e a enrolou com o corpo em um lençol antes de colocar
em um saco preto com zíper. Os três foram para o lote vago, onde já
havia uma cova feita aparentemente por uma retroescavadeira,
arremessaram o saco e o enterraram. Ele diz que ajudou a jogar terra
sobre o corpo, enquanto Bruninho, filho de Eliza com o goleiro dormia em
um Ford EcoSport, que foi um presente de Bruno para sua avó, também avó
de Jorge, dona Estela.
O
novo depoimento de Jorge ocorreu depois que ele deu entrevista à Super
Rádio Tupi, dos Diários Associados, no Rio de Janeiro, com detalhes
sobre sua participação no crime. Jorge era menor de idade na época do
assassinato. Desde então, deu versões diferentes para o caso, mas desta
vez garante ser verdade. Na entrevista, ele descreveu o local da desova:
“Uma estrada deserta, praticamente abandonada, perto de um coqueiro
curvado”.
Ele
disse à rádio que está falando a verdade agora para que a mãe de Eliza,
Sônia de Fátima Moura, possa fazer um enterro digno da filha. Mas antes
procurou um tio para contar sua decisão e foi aconselhado para seguir
em frente. Na entrevista à rádio, gravada em vídeo, ele diz: “Chegamos à
casa do Bola e entramos tranquilos. O Bola pediu pra ela me passar a
criança, e ela sentou na cadeira. Falou para ela ficar tranquila, que
ele era policial, que ela ficaria ali uma noite só e que no outro dia
iria para o apartamento”, afirma Jorge. Mas acabou matando a moça por
asfixia.
Como
no depoimento à noite, ele disse à rádio que Bola cortou a mão de
Eliza. “ Não tem nada de esquartejamento. Ela está inteira”, contou.
“Levamos (o corpo) para esse sítio, Só chegou lá e ele jogou ela (sic)
como se fosse um nada, um lixo, e enterramos. O Bola falou para o
Macarrão que ali não tinha como achar. O buraco onde ela está dava para
jogar uns 10 corpos”, afirmou
A
entrevista do primo do goleiro mobilizou as polícias do Rio de Janeiro,
onde ele mora, e de Minas. O rapaz deixou o Rio por volta das 5h de
ontem, acompanhado do tio, policiais do Comando de Operações Especiais
(COE) e do advogado Nélio Andrade, em direção a Vespasiano, onde
chegaram no início da tarde. Eles rodaram de carro por cerca de duas
horas e Jorge disse estar perdido. Depois, ele pediu para começar tudo
de novo partindo da casa de Bola, onde Eliza foi morta, e conseguiram
chegar ao local descrito por ele.
Andrade,
que afirma não ser defensor de Jorge, mas orientador jurídico, disse
que Jorge pediu para a polícia levá-lo à casa de Bola, para ter um ponto
de partida. De acordo com Andrade, ao passar perto do terreno, distante
oito minutos de carro do imóvel onde Elisa foi executada, ele pediu que
parassem, desceu, começou a chorar e apontou o local. Segundo Andrade, o
rapaz está com muito medo e pediu proteção. Ele está sob a guarda de
policiais do COE, do Rio de Janeiro.
Coerência
O
delegado Wagner Pinto, chefe do DHPP, informou que Jorge deu muitos
detalhes no depoimento. Ontem, a polícia isolou o local, onde ficaram
agentes durante toda a madrugada para preservar a possível cena do
crime. “O julgamento desse caso ocorreu com base na materialidade
indireta. O corpo dá a materialidade total ao sequestro, cárcere,
homicídio e ocultação de cadáver da vítima”, afirmou Pinto.
O
delegado informou também que a existência de um único coqueiro,
descrito por Jorge como o ponto que demarca a cena, é um fator que dá
ainda mais crédito à versão. “Ele afirma, com 100% de certeza, que o
lugar é aquele, mas tudo será comprovado amanhã (hoje). Vejo a versão
dele com certa coerência e acredito que o caso está muito perto de ser
resolvido”, disse.
O
policial afirmou que a descoberta não muda as penas dos cinco
condenados pelo assassinato de Elisa nem as investigações. O primo de
Bruno, que na época era menor de idade e cumpriu medida socioeducativa,
também não terá a pena alterada. Agora, ele é considerado um colaborador
do caso.
Bruno
foi condenado a 22 anos e três meses de prisão pelo assassinato e
ocultação de cadáver de Eliza e pelo sequestro e cárcere privado de
Bruninho. Macarrão pegou 15 anos de prisão por homicídio qualificado.
Bola foi condenado a 22 anos por homicídio duplamente qualificado e
ocultação de cadáver. Fernanda de Castro, ex-namorada de Bruno, pegou
cinco anos de prisão.
Esperança
O
advogado José Arteiro, assistente de acusação no processo de Bruno,
disse que a mãe de Eliza quer enterrar o corpo. O desejo de Sônia “é ter
pelo menos um pedacinho de osso da filha para fazer um sepultamento
digno”, afirmou. A advogada de Sônia, Maria Lúcia Vargem Gomes, afirmou
que ela tinha certeza que um dos envolvidos no crime contaria onde
estava o corpo da filha. Já o advogado do goleiro, Francisco Simin,
entende que se o corpo for encontrado, a pena de Bruno cairia de 22 anos
e três meses para 17 anos, pois ele foi julgado também por ocultação de
cadáver e não estava presente no momento em que o corpo foi enterrado.
“Vamos esperar confirmar a informação para ver se tem algo em prol do
Bruno”, disse Simin.
Procura em vão
Desde
24 de junho de 2010, quando surgiram as primeiras denúncias sobre o
sumiço de Eliza Samudio, a polícia fez várias tentativas de achar o
corpo
26 de junho de 2010
Policiais
e bombeiros levaram pás e enxadas para o Condomínio Turmalina, em
Esmeraldas, no sítio de Bruno. Eliza foi vista lá pela última vez. Sem
mandado de busca e apreensão, só puderam iniciar a procura no dia
seguinte. Policiais voltaram ao local em julho e em outubro.
Jorge Rosa Sales, primo de Bruno: "Chegou lá e jogou ela (sic) como se fosse um nada, um lixo, e enterramos. O Bola falou para o Macarrão que ali não tinha como achar. O buraco onde ela está dava para jogar uns 10 corpos" |
29 de junho de 2010
Denúncias levaram policiais à Mata das Abóboras, em Contagem. A busca foi inútil, pois nenhum corpo foi encontrado.
7 de julho de 2010
Bombeiros
foram à Lagoa Suja, no Bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, depois
de uma ligação anônima. Somente na manhã daquele dia, o Disque-Denúncia
mineiro recebeu mais de 40 informações sobre o possível paradeiro de
Eliza.
7 de julho de 2010
A
casa do ex-policial Marcos Aparecido, o Bola, foi alvo de uma
varredura, com base no depoimento de Jorge, primo de Bruno, de que o
corpo de Eliza havia sido dado a cães no imóvel.
9 de julho de 2010
Foi a vez das buscas se estenderem ao sítio alugado por Bola, em Esmeraldas, onde ele dava treinamento a policiais.
3 de novembro de 2010
Com
base em informações de que, no dia do crime, Bola fez ligações próximo
ao Parque Lagoa do Nado, no Bairro Planalto, o local foi alvo de
varreduras nas matas e na lagoa por dois dias, com ajuda de oito
bombeiros mergulhadores.
22 de junho de 2012
Uma
carta e um telefonema anônimo para a mãe de Eliza e o advogado da
família apontavam que o corpo teria sido jogado num poço numa
propriedade nos fundos do Parque Lagoa do Nado. Moradores vizinhos ao
local se arriscaram em buscas improvisadas, mas a polícia descartou a
denúncia.
28 de agosto de 2012
Uma
denúncia anônima levou equipes da polícia e bombeiros a nova busca no
Condomínio Turmalina, em uma área na entrada do sítio que pertenceu a
Bruno, em Esmeraldas. Com o julgamento e condenação dos envolvidos na
trama, não houve novas denúncias sobre o paradeiro do corpo de Eliza até
ontem, quando o primo do goleiro disse saber o local.
Por Jornal Estado de Minas
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