Jéssica Antunes
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
Há
sete meses, ele havia sido preso por falsificação de bebidas alcoólicas
em Taguatinga Sul. Três dias depois da audiência judicial, voltou a
cometer o crime pelo qual respondia em liberdade. Paulo Roberto Costa,
59 anos, teria sido encontrado pela Polícia Civil com mais de 150
garrafas com conteúdo falsificado de uísques e vodcas em sua casa que,
da mesma forma que no caso anterior, funcionava como fábrica
clandestina. Dessa vez, a presença de álcool hospitalar chamou atenção.
A
falsificação de bebidas pode colocar a saúde do consumidor em risco. O
problema é conseguir descobrir que se trata de um produto adulterado.
Isso porque, segundo a polícia, os criminosos possuem técnica suficiente
para enganar facilmente os clientes.
E além do dano ao comprador, os fabricantes também saem no prejuízo.
No caso de ontem, o suspeito foi denunciado por várias fontes, inclusive
por empresas que representam marcas internacionais.
Quase perfeito
Foram duas semanas de investigação e três de campana na frente da
casa. “Nenhuma garrafa tinha conteúdo original”, afirmou o delegado-
chefe de Combate aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DCPim),
Luiz Henrique Dourado Sampaio.
As receitas eram diferentes para cada tipo de bebida. Para um
uísque oito anos, por exemplo, o suspeito colocava 2/3 de bebida
nacional e 1/3 de bebida importada, ambas de qualidade inferior.
“Existe um mercado negro de revenda de embalagens em todo o País.
Revender, de fato, não é crime. Mas a falsificação é”, diz o delegado.
Além disso, lacres e selos da Receita Federal eram comprados, segundo o
preso, na internet ou em São Paulo. “Paulo é um artista. Tinha muito
cuidado na hora de lacrar e, no final, era de difícil identificação”,
conta.
Produtos
Foram apreendidas uma garrafa de vodca e 27 de uísque, 80 frascos
vazios, uma lata de solvente, um frasco de lubrificante, rótulos,
lacres, selos, corante, dois frascos de tinta spray e sete de álcool
70%, de uso hospitalar.
“Tudo indica que o líquido era usado para falsificação,
principalmente de vodca. Mas só a análise clínica poderá comprovar”,
ressalta.
O suspeito, entretanto, alegou que o álcool servia apenas para a limpeza da casa.
Recordações nada agradáveis
Não é difícil encontrar um consumidor que tenha se deparado com
bebidas alcoólicas adulteradas. O publicitário Félix Fernandes, 22 anos,
por exemplo, conta que já foi vítima do golpe. Certa vez, bebeu um
uísque na porta de uma festa e, depois de entrar no local, ele e os
amigos pediram outra garrafa da mesma bebida, de marca igual. “Assim
que eu e meus primos tomamos, percebemos que o gosto era diferente”,
lembra.
Quando eles saíram, compararam as duas garrafas e perceberam pequenas
diferenças: “Os lacres não eram iguais, por exemplo”. Félix entende que
seja complicado perceber a falsificação imediatamente, mas que é
possível identificar pelo sabor quando já se conhece o produto.
Essa não é a única situação que o morador de Ceilândia passou. Perto
de sua casa, ele encontra facilmente vodca adulterada com preço menor.
“As primeiras garrafas que comprei eram originais, mas depois começou a
vir falsificada”, afirma.
Presente
O vendedor William Pacheco, 22, também já foi afetado pela
adulteração. Ele ganhou uma garrafa lacrada de uísque de um amigo. “Só
percebi que era falso depois que tomei e vi que não fazia efeito. Até o
gosto era igual ao original”, conta.
Após consumir, sentiu uma forte dor de cabeça que persistiu até o dia
seguinte. O conteúdo que restava foi jogado fora. “Hoje observo o
lacre, a cor e vejo se faz algumas bolhas quando a garrafa é balançada”.
Para Maico Gurgel Fernandes, 29, funcionário de uma tradicional
distribuidora de bebidas da região central de Brasília, não há como
identificar falsificações. “Nossa garantia é a procedência. Usamos os
mesmos fornecedores há muito tempo e, assim, sabemos de onde os produtos
vêm”, afirma.
Produto seguia para festas e comércio
No caso de Taguatinga, segundo a polícia, Paulo Roberto Costa tinha
uma equipe de vendedores, a quem distribuía a bebida por metade do
valor original. Para o consumidor final, as garrafas eram oferecidas a
75% do preço. As falsificações eram destinadas a festas, eventos e
estabelecimentos comerciais. Havia, ainda, encomendas de Minas Gerais. A
estimativa é de que R$ 5 mil eram movimentados por semana, com lucro de
100% ao fabricante.
Antônio das Chagas Marques, 64, foi o único revendedor preso na
operação. Ele já havia sido autuado em 2013, com Paulo. Mas, na época,
alegou ser consumidor e, por falta de provas, foi liberado. Desta vez,
dez garrafas com conteúdo adulterado encontradas em seu carro o fizeram
confessar o esquema.
Paulo e Antônio responderão por falsificação e estelionato, podendo
chegar a 13 anos de reclusão. Além disso, aqueles que compraram dos
revendedores e sabiam da situação do conteúdo das garrafas podem ser
penalizados. “Isso configura estelionato e crime exposição ao perigo
para a vida ou saúde de outrem”, diz o delegado Luiz Henrique Dourado.
Como consequência, pode pegar de um a cinco anos de reclusão.
Fique atento
Como reconhecer bebida falsificada?
1. Exija o selo de reconhecimento do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), colocado na tampa das garrafas, e o lacre da
Receita Federal.
2. Verifique informações do importador e distribuidor nas embalagens.
3. Por lei, todos os produtos destilados devem conter um dosador.
4. Observe embalagem da garrafa. Palavras erradas e rótulos arranhados, cortados ou desnivelados podem ser indícios.
5. Verifique se há impurezas no líquido.
6. Balance a garrafa de uísque. Se as bolhas se dissiparem rápido, é um indício que a bebida é original.
7. A cor do uísque deve ser dourada e transparente.
8. As vodcas verdadeiras não possuem odor, enquanto as falsificadas têm cheiro forte.
9. Por sua estrutura química com mais de 50% de álcool, a vodca não
congela no freezer. Em alguns casos, teria que alcançar -70°C.
Quais sintomas indicam a ingestão de bebida falsificada?
É possível listar como indícios a dor de cabeça e no estômago, tontura e diarréia.
Quebre a garrafa
O delegado da DCPim, Luiz Henrique Dourado Sampaio, recomenda que a
população compre bebidas alcoólicas apenas de estabelecimentos
confiáveis, como supermercados ou distribuidoras. “É importante que,
após o consumo, a garrafa seja danificada para evitar comercialização e
falsificação. Uma rachadura no bico já deixa o material inutilizável”,
acrescenta. Em 2012, uma operação da Polícia Civil apreendeu dezenas de
engradados com cerveja falsificada (foto).
Ponto de vista
De acordo com a médica gastroenterologista Lilian Lauton, a
presença de álcool hospitalar nas bebidas falsificadas é prejudicial
devido à presença de metanol. “Quanto maior a dose e o tempo de consumo,
mais rapidamente pode ocorrer o desenvolvimento de uma hepatite
alcoólica aguda”, explicou.
Segundo ela, isso “depende da susceptibilidade individual associada ao consumo”. A doença pode levar à morte.
Saiba mais
Bebidas clandestinas possuem substâncias tóxicas que podem
provocar cegueira e até levar à morte. É o que indica uma pesquisa
realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
com apoio parcial do Icap (International Center for Alcohol Policies).
A Secretaria de Segurança Pública informou que atualmente não
existe um levantamento específico sobre apreensões de falsificadores de
bebidas alcoólicas no Distrito Federal.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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