Há
29 anos, um crime bárbaro tentou calar o Correio. O jornalista e
empresário Paulo Brandão Cavalcanti Filho, 36 anos, na época,
diretor-presidente do Sistema Correio de Comunicação foi assassinado em
13 de dezembro de 1984, com mais de 30 tiros de metralhadora e pistolas,
numa emboscada, quando saía da fábrica Polyutil, no Distrito
Industrial, às margens da BR-101, em João Pessoa. Na época, o Brasil
ainda respirava resquícios da Ditadura Militar e a liberdade de imprensa
era silenciada com a morte. O assassinato, que chocou a Paraíba e
repercutiu fora do País, teria sido motivado por denúncias de corrupção
na administração pública, que estavam sendo publicadas no Correio.
Entre
as denúncias publicadas no Correio, estavam o superfaturamento na
compra de caçambas pela Prefeitura da Capital, o caso da PBTur ou o
escândalo dos hotéis, como ficou conhecido, e irregularidades em
licitação do DER, que foi cancelada após a denúncia do jornal. Segundo
apurou a Polícia Federal na época, o assassinato foi tramado nos
corredores do Palácio da Redenção e as balas que mataram Paulo Brandão
foram disparadas de uma metralhadora pertencente ao Gabinete Militar do
Governo da Paraíba.
Para o jornalista e documentarista Lúcio
Vilar – diretor do documentário “Doc Correio, 60 anos” – o assassinato
de Paulo Brandão foi um marco que ajudou o jornal a crescer no campo da
denúncia e do jornalismo investigativo.
“O crime teve
repercussão internacional. Foi muito forte. Na época, com o fim da
Ditadura, ainda havia o chamado ‘entulho autoritário’. A cultura da
repressão e da retaliação ainda estava muito viva. Tem uma fala de
Roberto Cavalcanti que é muito simbólica. Ele diz que por conta da
postura que o Correio teve na época – de não baixar a cabeça diante
desse ato truculento e selvagem – não se permitiu mais nenhum episódio
dessa natureza na Paraíba. Isso talvez seja o legado do Correio. Hoje,
pensam duas vezes ao cometer algo dessa natureza”, ressaltou Lúcio
Vilar.
Correio ganha mais credibilidade e cresce na opinião popular
A
forma cruel como Paulo Brandão foi assassinado gerou revolta não
somente dos familiares, mas também da sociedade paraibana. Após a morte
do jornalista, a população em geral passou a denunciar a corrupção do
governo e os desvios de dinheiro público mais efetivamente. Antes de
assassinar Paulo Brandão, várias ameaças de morte foram feitas contra
dirigentes do Correio, para tentar impedir a publicação das reportagens.
O jornalista Biu Ramos contou que houve uma grande pressão
junto às autoridades e à Justiça, para a prisão e a punição dos
responsáveis. E, segundo ele, o Correio sustentou uma verdadeira cruzada
até que fossem apontados os culpados. Ele relatou que, na época, o
clima na Redação era de apreensão. “O jornal cresceu muito na opinião
pública, porque estava demonstrando uma grande coragem”, disse Biu
Ramos.
‘Faro jornalístico’ e coragem de denunciar
Natural
do Rio de Janeiro, Paulo Brandão era formado em Direito e dominava não
somente códigos e leis, mas também detinha um grande ‘faro
jornalístico’. Tinha coragem de ir fundo nas denúncias e a sensibilidade
para investigar. Aos 24 anos, Paulo Brandão já era chefe do Contencioso
Jurídico do Grupo Financilar Lume, no Rio de Janeiro. De família de
classe média, ele fez o curso de Direito em Pernambuco e, depois de
formado, chegou a morar na sacristia de uma igreja, no Rio de Janeiro,
porque o tio era padre e não tinha condição de alugar um local para
ficar.
Quatro foram acusados do crime
Conforme
apurou a Polícia Federal na época, o assassinato de Paulo Brandão foi
planejado no Palácio da Redenção pelo coronel reformado da Polícia
Militar, José Geraldo Soares de Alencar que, na época, era
secretário-chefe do Gabinete Militar do Governo do Estado, e as armas
utilizadas eram da Secretaria de Segurança Pública. De acordo com a PF, o
crime teve o envolvimento de mais três militares, o sargento Manoel
Celestino da Silva, o subtenente Edilson Tibúrcio de Andrade e o cabo
reformado da PM, José Alves de Almeida, o "cabo Teixeira". O coronel
Alencar foi condenado por ter sido o autor intelectual do crime.
O
jornalista Paulo Brandão foi assassinado na noite de 13 de dezembro de
1984, no momento em que se dirigia para o Sistema Correio de Comunicação
em um veículo Parati. Ele foi metralhado e seu corpo ficou estendido às
margens da BR-101, em João Pessoa.
PF assumiu investigações após ordem do presidente
Na
mesma noite em que o jornalista e empresário Paulo Brandão foi
assassinado, começaram a surgir as suspeitas de que o crime havia sido
tramado nos corredores do Palácio da Redenção e que os autores da
execução eram policiais militares. No dia seguinte, o então secretário
da Segurança Pública, Fernando Milanez, designou o delegado da Polícia
Civil Janduy Pereira, para presidir o inquérito policial. Porém, após
mais de seis meses do crime, nada de concreto havia sido apurado, apesar
das suspeitas sobre a autoria dos disparos.
Revoltados,
familiares do jornalista Paulo Brandão começaram uma verdadeira
"batalha", pedindo Justiça, para que o crime não ficasse impune.
Entidades de defesa dos Direitos Humanos, entre elas, a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB-PB) fizeram mobilizações pedindo que a Polícia
Federal assumisse as investigações.
Sobre as denúncias que calaram Paulo Brandão
Três
grandes denúncias foram feitas por Paulo Brandão, no jornal, dias antes
do seu assassinato. A primeira foi o superfaturamento na compra de
caçambas feita pela Prefeitura de João Pessoa. Naquele momento, o
titular da Prefeitura da Capital era nomeado pelo Governo do Estado. A
segunda foi o ‘escândalo dos hotéis’ e, ainda, irregularidades em
licitação para compra de tratores, máquinas e outros equipamentos de
terraplanagem para o DER. Segundo as denúncias sobre o "escândalo dos
hotéis", em novembro e dezembro de 1984, uma empresa privada "recebeu da
PBTur o 'presente' de explorar seis hotéis do Estado, gratuitamente,
por dois anos". Conforme as denúncias, seria um "golpe bilionário no
Governo da Paraíba".
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