Discreta, mas sempre influente nas
decisões do marido, Renata Campos uniu o PSB em torno de Marina e abriu
caminho para mudança no cenário eleitoral. Ex-primeira-dama era chamada
de “vice-governadora”, mostra a Revista Congresso em Foco
Bruna Serra, do Recife
Fernando Frazão/ABr |
Quase 3 mil pessoas se apertavam no salão principal de uma casa de
eventos no bairro do Derby, Zona Norte de Recife. Cinegrafistas,
fotógrafos e repórteres formavam uma barreira humana desde a calçada.
Todos ávidos por uma declaração, uma frase, uma palavra de Renata de
Andrade Lima Campos, que naquela segunda-feira cinzenta, de 18 de
agosto, completava 47 anos. Aniversário lembrado sem comemorações, um
dia após o enterro do marido, o ex-governador de Pernambuco Eduardo
Campos (PSB), morto cinco dias antes – vítima de um desastre aéreo em
plena campanha à Presidência da República, ao lado de quatro assessores e
dos dois pilotos.
Arrastada pela tragédia para o centro das discussões sobre o rumo da
sucessão presidencial, Renata não esmoreceu no luto. Confortou quem
procurava consolá-la, manteve a sobriedade da família e assumiu o
protagonismo do marido. Sempre discreta, mas influente, tornou-se a
fiadora da chamada “terceira via” na corrida pelo Planalto ao avalizar a
condução de Marina Silva (PSB), até então vice de Eduardo, à cabeça da
chapa. Renata só não virou a vice de Marina porque não quis. Alegando
que tinha de cuidar dos cinco filhos, recusou o convite feito pela
direção nacional e apoiou a indicação do deputado Beto Albuquerque
(PSB-RS) para a vaga.
A reunião daquele dia havia sido marcada pelo marido, que viria de
Fortaleza para o aniversário da esposa e aproveitaria a parada em Recife
para comandar um encontro com o PSB local. Renata manteve o compromisso
e o conduziu pessoalmente. Legítima herdeira do capital político de
Eduardo Campos, ela estava ali, menos de 24 horas após o enterro do
companheiro, para dar um recado claro ao partido e aos seus adversários.
Mudança radical
“Pode parecer que o nosso maior soldado não está na luta, mas seus
sonhos permanecem vivos”, discursou Renata. “Fique tranquilo, Dudu.
Teremos a sua coragem para mudar o Brasil. Não desistiremos do Brasil. É
aqui onde cuidaremos dos nossos filhos”, destacou a ex-primeira-dama,
referindo-se ao marido, levantando o público naquela manhã. A
pacificação do partido, conduzida pela viúva, provocou uma reviravolta
na disputa eleitoral. Três semanas após a tragédia, a sucessora de
Eduardo Campos aparece nas pesquisas como favorita à sucessão
presidencial. Antes da entrada de Marina na disputa, o cenário era
favorável à reeleição, ainda no primeiro turno, de Dilma Rousseff (PT).
Com gestos e palavras, a auditora do Tribunal de Contas do Estado
(TCE) de Pernambuco acalmou os ânimos no partido – dividido entre os
simpatizantes e os adversários internos de Marina Silva, abrigada pelo
PSB depois de não conseguir criar o seu partido, a Rede
Sustentabilidade, a tempo de disputar as eleições de 2014. E deu
continuidade ao projeto de poder de uma legenda que, embora com bancada
reduzida no Congresso, com apenas 26 deputados e quatro senadores, tem
crescido de maneira rápida e atualmente conta com cinco governadores e
mais de 150 prefeitos espalhados pelo Brasil.
Dudu, como ela o chamava, e “dona Renata”, como ele a tratava
carinhosamente, compartilhavam visões muito próximas de vida, política e
poder. Combinavam doses de idealismo com outras de pragmatismo. Eduardo
costurou alianças improváveis. Trouxe para o PSB, um partido
historicamente de centro-esquerda, figuras com trajetória em legendas
conservadoras, como o antigo PFL, hoje DEM. O ex-governador reforçava,
assim, seus palanques com fortes cabos eleitorais estaduais. Esse
pragmatismo, que tinha o aval de Renata, opunha o grupo político do
ex-governador pernambucano ao de Marina Silva. E também era alvo de
críticas de antigos aliados, que questionavam o seu discurso em defesa
de uma “nova política”.
Discrição e força
A força demonstrada durante o velório do marido pode ter dado a
Renata uma popularidade que Eduardo Campos ainda perseguia, acrescentada
de uma pitada de comoção. Nos oito anos de mandato do marido, ela fez
intervenções em favor de políticas públicas em favor da saúde das
mulheres e da arte pernambucana em todas as suas facetas.
O convívio deles não se resumia ao namoro, iniciado quando ele tinha
15 anos e ela, 13. Os dois estudaram juntos na Universidade Federal de
Pernambuco. Lá começaram a militância política no movimento estudantil.
Casados por 21 anos, faziam política juntos: um mandato de deputado
estadual, três de federal e uma passagem pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia até chegar ao governo estadual, por duas gestões
consecutivas.
“Vice-governadora”
Centralizador, Eduardo Campos decidia cada detalhe não apenas da sua,
mas da campanha de vários aliados. Chamava para si a deliberação de
todo e qualquer caminho que sua base política tomaria, deixando pouco
espaço para o surgimento de novas lideranças dentro do PSB. Esse perfil o
impediu de preparar um sucessor político natural, função que, ao menos
por enquanto, caberá a Renata.
A vida a dois fez com que ela se tornasse a maior incentivadora e
conselheira do marido. Quase nenhuma decisão era tomada por Eduardo sem
que a opinião de Renata fosse levada em consideração. No governo do
marido, ela formou um importante grupo político. Nos bastidores, era
chamada de vice-governadora. Presente em quase todos os eventos do
Estado, sempre tinha lugar de honra nos palanques do então governador.
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